É um Jacques Audiard armado em Abdellatif Kechiche o que encontramos em Paris 13. Já são muitos os filmes que retratam os turbulentos subúrbios da capital francesa, com as suas questões sociológicas e multiculturais. Talvez por isso, Audiard não abandonou as portas da cidade, retratando o 13.ème arrondissement, que nos aparece quase como um subúrbio dentro da cidade. Ali não há turistas. Há prédios de gosto duvidoso, sem o encanto dos de antigamente. A violência não impera, mas subsiste uma vivência cultural heterogénea, dominada pela comunidade chinesa, mas com as mais variadas ramificações.
Audiard adaptou três novelas do cartoonista norte-americano Adrian Tomine e cozeu-as em lume brando, quando não escaldante, usando o sexo como fio condutor. Sim, claro, também se fala de amor. Mas é o lado físico que domina as histórias, como que defendendo a ideia de que é através das relações sexuais que se chega ao amor e não ao contrário.
Filmado com criatividade estética e uma fotografia bem trabalhada, o filme transmite o encanto sedutor das novelas gráficas. Já sentíramos isto em A Vida de Adèle, de Kechiche, ou, mais recentemente, em Playlist, de Nine Antico. Há uma espécie de realidade alternativa, jovem, descomprometida, que nos enche as medidas.
Na verdade, o poder gráfico que nos seduz passa inevitavelmente por uma ideia de contemporaneidade sexy das histórias contadas. Desde a busca frívola de sexo pelas personagens da primeira parte, até ao drama de Nora, que é confundida pelas colegas de universidade com uma call girl de serviços online. A deriva das personagens que se entrecruzam, em modelos simples, acaba por ser o mais interessante do filme. Audiard consegue criar personagens com densidade psicológica que evoluem ao longo da narrativa. Para isso é fundamental o trabalho dos seus coargumentistas, sobretudo Céline Sciamma, uma das grandes guionistas e realizadoras de um novo cinema francês.
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Paris 13 > De Jacques Audiard, com Lucie Zhang, Makita Samba, Noémie Merlant e Jehnny Beth > 105 min