Tudo seria diferente se a incrível e eletrizante história de Louis Wain tivesse sido retratada por Tm Burton. Resultaria provavelmente num novo Willy Wonka, com gatinhos em vez de chocolates. Mas a excêntrica personagem britânica foi trazida ao cinema por Will Sharpe, realizador de percurso curto, mais habituado a trabalhar para televisão, que fez o que pôde.
Certo é que Louis Wain é uma personagem bigger than life. E Sharpe, sobretudo na primeira parte do filme, deixa transparecer todo o lado frenético deste ilustrador que desenha com as duas mãos a um ritmo quase instantâneo, inventor esforçado que se apercebe do potencial da eletricidade, registando as mais diversas patentes, e até compositor delirante que escreve uma ópera sem ponta por onde se lhe pegue. De tudo isto, o que sobrou de Wain foram os gatos. Retratou inúmeros felinos e espalhou-os pelos jornais para delícia do público inglês.
Tudo na vida de Louis Wain parece empolgante, num estilo excessivo, típico de uma personagem de BD. Benedict Cumberbatch interpreta o papel em registo caricatural. E Sharpe não resiste a alguns truques baratos, como repetições, desaceleração da imagem ou uma incessante necessidade de justificação e exaltação da personagem, não percebendo que valia a pena tratar Louis Wain apenas com a meritória dignidade de um excelentíssimo anti-herói.
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A Vida Extraordinária de Louis Wain > De Will Sharpe, com Benedict Cumberbatch, Clair Foy, Toby Jones, Andrea Riseborough, Nick Cave > 111 minutos