Faz 100 anos um dos mais marcantes filmes da história do cinema, e não há melhor forma de celebrar do que vê-lo de novo em sala e em cópia restaurada. Ainda para mais sabendo que O Garoto de Charlot, ao contrário de outros clássicos indiscutíveis, permite-nos uma fruição fluida e intergeracional: assistir ao filme de Charlot é sinónimo de uma hora bem passada.
“Um filme com um sorriso e talvez uma lágrima” – assim se refere à obra o próprio Chaplin, no prelúdio apresentado em tela, como se fosse um aviso à navegação. E esta é uma boa definição do estado de espírito emocional em que coloca o espectador. Mas, mais ainda aos olhos de hoje, enfatiza-se o retrato de um mundo cruel e desumanizado, por detrás desta história de um mendigo que adota uma criança abandonada.
Tal como Tempos Modernos (a grande sátira à sociedade industrial realizada 15 anos depois), O Garoto de Charlot é também um filme político, que denuncia uma sociedade injusta, sectarista e elitista, sem as mais elementares bases de proteção social, nem sequer no que toca à proteção de crianças.
O espectador, cúmplice de Charlot, segue emocionado as suas aventuras e desventuras, enquanto o mundo em redor é escandalosamente indiferente àquela figura terna, de um homem desajeitado que se sacrifica para encontrar soluções criativas para sustentar um filho que não é seu. Charlie Chaplin escreveu, realizou e compôs a banda sonora desta sua primeira longa-metragem. Obra de génio. E as gargalhadas espontâneas que provocam os seus filmes subsistem até hoje.
O Garoto de Charlot > De Charles Chaplin, com Charles Chaplin, Jackie Coogan e Edna Purviance > 68 minutos