Nascido no caldo cultural de Los Angeles, o norte-americano Mark Bradford, 60 anos, trabalhou no cabeleireiro da mãe quando era jovem, aí autoassumindo o rótulo de agente da beleza, “beauty operator”. Algo espelhado nas suas colagens e pinturas abstratas: intrincadas tapeçarias de papel, em camadas texturizadas de grandes dimensões, algo devedoras da estética “suja” dos pósteres de rua “trabalhados” pelo tempo. São obras corajosas no uso da cor, nos padrões ritmados, na reinterpretação dos materiais quotidianos, a que o artista associa uma postura militante, reclamando atenção para as realidades e narrativas sociais das comunidades marginais, nomeadamente as comunidades negra e LGBT, e às pandemias das últimas décadas, da sida à Covid-19.
Aliás, uma das suas obras mais espetaculares, produzida após a passagem do furacão Katrina para a bienal Prospect.1 New Orleans (2008-2009) refletia essa militância: uma colossal arca de Noé, feita com contentores e tábuas grafitadas com anúncios. Respeitado pela reinvenção pictórica no circuito internacional, Bradford apresenta-se pela primeira vez em Portugal com pinturas, tapeçarias e obras sobre papel, realizadas nos últimos três anos e inspiradas em mitos medievais dessa época também assolada pela peste – nomeadamente, as tapeçarias A Caça do Unicórnio, e o monstro Cérbero, cão de três cabeças do inferno –, induzindo a comparações e metáforas entre épocas.
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Mark Bradford representou os Estados Unidos da América na Bienal de Arte de Veneza 2017 com a exposição Tomorrow is Another Day.
Ágora > Museu de Serralves > R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 26 nov-19 jun, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10