Nanni Moretti conquistou um público fiel graças às suas comédias intimistas e políticas, como Palombella Rossa, Querido Diário e Abril, para mais tarde se mostrar como um implacável construtor de dramas. Tal aconteceu de forma particularmente eficaz e avassaladora em O Quarto do Filho, mas também em Minha Mãe (que é uma espécie de O Quarto da Mãe) e, agora, neste sublime Três Andares.
É a primeira vez que Nanni Moretti adapta um romance ao cinema, no caso da autoria do israelita Eshkol Nevo. A adaptação resulta num argumento perfeito, em que as histórias, sempre trágicas ou melodramáticas, dos moradores de um prédio de Roma se cosem com naturalidade e realismo, sem deixar pontas soltas ou arestas por limar. Apesar da dimensão local e bairrista, em Três Andares, Moretti coloca-se nos antípodas da crónica de costumes, recorrente nas comédias clássicas italianas e que o próprio usou nos seus filmes. Estamos perante italianos tristes, nada espalhafatosos, com problemas sérios e difíceis de resolver.
Os pontos de partida são situações extremas que nos convidam a fazer uma reflexão sobre a família e a vida em estados de pressão máxima. O incidente inicial é um rapaz bêbedo que atropela mortalmente uma mulher. Ao contrário do que acontecia nos dramas anteriores, não ficamos do lado da família da vítima, mas do lado da família do rapaz. Mas também há o homem que cisma que o vizinho de cima abusou da filha menor e a mulher (que papelaço de Alba Rohrwacher!), com o marido sempre ausente, que desenvolve uma psicose.
O filme não força conclusões nem nos impõe conceitos morais. Contudo, como é próprio de Moretti, não se acanha no desenvolvimento dramático, indo até às últimas consequências, provocando momentos de arrepio mas também de grande comoção.
Veja o trailer:
Três Andares > De Nanni Moretti, com Riccardo Scamarcio, Margherita Buy, Alba Rohrwacher > 119 minutos