Cada frame do filme de Catarina Vasconcelos poderia ser emoldurado num quadro de uma exposição; cada excerto que o acompanha poderia ser isolado e inscrito num livro de poesia. Assim se pode definir o elevado patamar de beleza em que se situa A Metamorfose dos Pássaros, longa de estreia da realizadora lisboeta que, após um bem-sucedido percurso por festivais de cinema (incluindo um prémio em Berlim), chega finalmente às salas portuguesas.
O filme partiu de uma ideia de documentário. Uma busca solitária e pessoal de raízes familiares, centrado na memória da avó (Beatriz), que nunca chegou a conhecer, mas também na sequência do isolamento do avô e da morte da mãe (a quem dedicara a sua primeira curta). Em confronto com a realidade, ou com a ausência de elementos palpáveis que permitissem construir um documentário propriamente dito, a realizadora derivou para um objeto híbrido, difícil de catalogar.
A Metamorfose dos Pássaros pertence, inevitavelmente, à subcategoria dos retratos de família. É um filme íntimo, pessoal e partilhável, em que se serve de voz-off (várias, em registo coral ou polifónico), numa escrita literária, para nos conduzir por um conjunto de imagens em movimento com um tratamento estético apurado e criativo, próximo das artes visuais.
Veja o trailer do filme
A Metamorfose dos Pássaros > De Catarina Vasconcelos, com Manuel Rosa, João Móra, Ana Vasconcelos > 101 minutos