Quentin Dupieux é o realizador de Rubber – Pneu (2010), filme de terror, fantástico e surrealista, em que se contava a história de um pneu serial killer. Desde então, parece que o realizador francês anda à procura de filão semelhante, mas não é fácil repetir uma ideia tão estrambólica e eficaz. Todavia, nessa busca encontram-se objetos interessantes, que causam algum fascínio, de um realizador fora do baralho que explora de forma original géneros e subgéneros pouco comuns no cinema francês mais exportável. É o caso deste Mandíbulas.
Em vez de um pneu, o filme tem como silencioso protagonista um inseto gigante. Uma enorme mosca, do tamanho de um cão, que nada tem que ver com a de David Cronenberg e que aparece de forma algo misteriosa na narrativa. A mosca, gentilmente batizada de Dominique, não chega a ser fonte de carnificina, mas é sempre um elemento de tensão, contribuindo assim, mais uma vez, para a desconstrução do género: Mandíbulas é um filme de terror que nunca o chega a ser.
Na verdade, é, acima de tudo, uma comédia que se serve das sucessões de acasos e de coincidências toleráveis no género para construir a narrativa. Conta a história de Jean-Gab e de Manu, uma dupla de marginais, entre o ócio e o crime, que encontra uma mosca gigante na bagageira de um carro que eles roubaram e decidem domesticá-la para assim fazerem fortuna em espetáculos de circo. Pelo caminho, entre outras peripécias, encontram um grupo de jovens endinheirados numa casa com piscina. Uma das raparigas confunde Jean-Gab com um velho colega de escola e convida-os a ficar. Eles aproveitam-se da situação, sem nunca abdicarem do anterior propósito: domesticar a mosca.
Com grande potencial para se tornar objeto de culto, Mandíbulas está cheio de momentos hilariantes, do género “estranha-se, depois entranha-se”, que garantem um tempo bem passado na sala de cinema.
Veja o trailer do filme
Mandíbulas > De Quentin Dupieux, com Grégoire Ludig, David Marsais, Adèle Exarchopoulos, India Hair > 77 minutos