A pintora portuguesa tem-se assumido como uma testemunha dos tempos que vivemos, recusando refugiar–se apenas no seu pequeno canto, em temas intimistas pertencentes ao seu léxico pictórico, em escolhas familiares. Atenta às tragédias humanas, auscultando o mundo em volta, impelida por uma consciência moral, Graça Morais fez aquilo a que chamou um “autoconfinamento” no seu estúdio lisboeta logo no primeiro fechamento social trazido pela pandemia. E aí registou, trabalhou, exorcizou os medos novos trazidos pelo vírus, a sua própria fragilidade (já que foi sujeita a algumas intervenções delicadas que afetaram a sua saúde), as tragédias internacionais que têm marcado a atualidade.
Aliando um aparente figurativismo às metamorfoses humanas e animais, apresenta aqui 52 pinturas e desenhos, muitas destas obras inéditas. Inquietações, exposição curada por Joana Baião e Jorge da Costa, enfrenta o medo, expresso nas pupilas negras e nos olhares das figuras retratadas, no gesto fantasmático de colocar uma máscara (funerária?) no rosto. E faz eco dos dramas internacionais, como o da morte de George Floyd às mãos da polícia e o racismo endémico ou o dos migrantes e refugiados que protagonizam cemitérios aquáticos às portas da Europa – Graça aproxima-os de um teatro de sombras, espectros agarrados a frágeis boias. E há ainda uma instalação imersiva, uma sala forrada de jornais, um monumento à condição humana e à verdade.
Inquietações > Centro de Arte Contemporânea Graça Morais > R. Abílio Leça, 105, Bragança > T. 273 302 410 > até 23 jan 2022, ter-dom 10h-18h30 > €2,09