Tudo depende do sítio onde se coloca a câmara. Sandra Kogut faz um retrato exemplar dos escândalos de corrupção no Brasil dos últimos anos, com empresários e políticos presos, bens penhorados e obras embargadas. Só que, em vez de apontar a câmara aos corruptos, deixa-a ficar ao nível de Madá, a enérgica caseira da residência de férias da família. O resultado é magnífico, até porque o papel de Madá é interpretado pela maravilhosa Regina Casé.
O filme divide-se em três partes a que correspondem três verões na mansão. O primeiro é o da fartura e da boémia; a casa é nova, o novo-riquismo por vezes extravagante, a festa de Natal é aperaltada por luxos, havendo sempre uma ideia transversal de “esquema” que abrange, na escala de cada um, empregados e patrões, como que sugerindo que o problema da corrupção no Brasil é endémico.
O segundo começa por ser o verão do embate, em que recebem a notícia de que o patrão foi preso e em que, perante a ausência de alternativas, os empregados, liderados por Madá, se reinventam social e economicamente. O terceiro é o verão da retoma. Porém, esse regresso já não é possível na sua plenitude e Madá tem a oportunidade de completar a emancipação.
Precioso registo este que, ao mesmo tempo que reflete sobre os escândalos de corrupção no Brasil e suas consequências, se torna um ensaio sociológico, em que a voz de Seu Lira, o ancião que se mantém para além do seu tempo, acaba por ser a voz da dignidade e da consciência.
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Três Verões > De Sandra Kogut, com Regina Casé, Rogério Fróes, Gisele Fróes, Jessica Ellen > 94 minutos