Denis Côté, um dos mais ousados realizadores canadianos da atualidade, levou ao Festival de Berlim uma obra que, inusitadamente, cumpre as regras de distanciamento social impostas pela pandemia. Durante todo o filme, os atores mantêm-se a uma distância mínima de dois metros uns dos outros. Talvez tal não seja mera consequência das restrições, mas é assim que acontece.
De uma forma radical e ousada, o realizador do Quebeque monta um dispositivo cénico. Em Higiene Social, numa clareira, em pose de teatro, com um enquadramento amplo e fixo, em que os atores falam sobretudo a olhar para o público e não uns para os outros, constroem-se diálogos espirituosos, bem-humorados e por vezes insólitos entre personagens intrigantes. Há uma descoincidência entre os seus trajes, que nos remetem para um filme de época, e a realidade contemporânea revelada no discurso. Tudo se centra, sobretudo, nas desventuras de Antonin, personagem transversal ao tempo e omnipresente.
Incrivelmente, apesar do minimalismo formal e da ausência de ação, o filme premiado no Festival de Berlim 2021 (venceu o prémio de melhor realização da secção Encontros), dentro do seu desafiante experimentalismo, não se torna enfadonho. O interesse deve-se em grande parte à qualidade do texto e à capacidade interpretativa dos atores. É só uma questão de aceitarmos as regras do jogo e nos deixarmos levar.
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Higiene Social > De Denis Côté, com Maxim Gaudette, Larissa Corriveau, Eve Duranceau, Kathleen Fortin > 75 min