Em 1936, Abel Meeropol, professor judeu de uma escola do Bronx, publicou o poema Strange Fruit, em que descrevia, com uma poderosa carga metafórica, um linchamento de um homem negro, ocorrido seis anos antes, no Sul dos Estados Unidos da América. Em 1938, Billie Holiday fez do poema de Meeropol uma canção e jamais deixou de a cantar. Strange Fruit tornou-se um autêntico hino contra a América racista, mas Holiday sofreu na pele a insistência em interpretar esse tema. Esta é a história de Estados Unidos vs. Billie Holiday, que chega agora às salas.
O título do filme de Lee Daniels é sintomático. Trata-se da luta de uma mulher contra um país inteiro (ou vice-versa) e de uma América contemporânea, que ainda sofre de episódios racistas, a acertar contas com o seu passado.
Billie sofreu pressões para deixar de cantar o poderoso tema. Mas nunca cedeu. A sua força é uma popularidade transversal, fruto do seu talento, que extravasa em muito a comunidade negra. As fragilidades são muitas. Apesar de ser uma self-made woman, Billie tem uma história de pobreza, violência doméstica e toxicodependência. Entre traições e recaídas, a droga torna-se mesmo o pretexto para a levar à prisão. Nesta batalha desigual, entre um país e uma mulher, resta a Billie a vitória moral, de justiça poética e histórica, de Strange Fruit se ter tornado um dos temas mais icónicos do cancioneiro americano, gravado por dezenas de intérpretes.
Com esta estreia, chega às salas o documentário Billie, de James Erskine. O filme tem o mérito de revelar gravações e conversas inéditas, ajudando a desvendar a verdadeira história da cantora. Cada um dos filmes serve de complemento do outro: colocando-se lado a lado a perspetiva documental e ficcional. Ouvindo os seus discos ganha-se, ainda, a perspetiva artística original, superior a todas as outras.
Veja o trailer de Estados Unidos vs. Billie Holiday
Estados Unidos vs. Billie Holiday > De Lee Daniels, Andra Day, Trevante Rhodes, Garrett Hedlund > 130 minutos