Sendo um dos grandes textos do reportório teatral de todos os tempos, foi alvo de inúmeras versões. Nesta abordagem singular da peça As Três Irmãs, a terceira de Tchékhov feita pela Ensemble – Sociedade de Atores (em coprodução com o Teatro Nacional São João), o encenador Carlos Pimenta contraria o excessivo poder das imagens e apresenta um dispositivo centrado na performatividade do som e da palavra. O espaço cenográfico assume-se como um estúdio de gravação, assistindo o público a um jogo de cena híbrido, entre a representação para o microfone e a representação teatral. “A perspetiva divide-se entre a ideia da escuta radiofónica, em casa, individual e num espaço privado, e o voyeurismo do ver fazer, da performance numa sala de teatro, coletivamente e num espaço público”, explica Francisco Leal, a desempenhar um papel importantíssimo na sonoplastia e no desenho de som.
O espectador é convocado para um exercício de escuta ativa, preenchendo os vazios, uma vez que só há vislumbres de pequenas cenas, espaços, acontecimentos e personagens que só existem quando falam. Emília Silvestre, Isabel Queirós e Bárbara Pais representam os papéis de Macha, Olga e Irina, as três irmãs que vivem um quotidiano banal numa pequena cidade dos confins da Rússia, enquanto anseiam pelo regresso à Moscovo natal. Nesta encenação, não se procura recriar a Rússia em plena efervescência revolucionária, embora a peça (estreada em 1901) seja usada para refletir sobre o nosso tempo. “Não deixa de ser curioso que estas personagens tchekhovianas tenham sobretudo saudades do futuro, enquanto que nós, paradoxalmente, temos neste momento sobretudo saudades do passado”, sublinha Carlos Pimenta. Agarremo-nos às palavras de Olga, no quarto ato: “Daqui por pouco tempo mais saberemos porque é que vivemos, porque é que sofremos… Se a gente soubesse, se a gente soubesse!”

Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > T. 22 340 1910 > 7-16 jan, qua-sex 19h, sáb-dom 10h30 > €10