1. Retrato da Rapariga em Chamas, de Céline Sciamma
O filme de Céline Sciamma é uma sublime história de amor que nos fala da condição feminina, numa época distante que também poderia ser a nossa. Pela sua candura, Retrato da Rapariga em Chamas pode ser olhado como um Chama-me pelo teu nome (2017) no feminino. Mas diríamos que o filme de Sciamma, pictórica e narrativamente, é ainda mais perfeito.
2. Da Eternidade, de Roy Andersson
Roy Andersson, 77 anos, é um dos maiores génios do cinema contemporâneo. Da Eternidade segue a trajetória da sua brilhante Trilogia da Vida (Tu, que Vives, Canções do Segundo Andar e Um Pombo Pousou…). A estrutura e a linguagem são semelhantes. É um cinema feito de sketches interligados. Cada cena é um quadro, imaculadamente composto, geralmente sombrio, em que quase sempre se revela um olhar irónico e exterior sobre a natureza humana. As personagens, regra geral, são imensamente sós e confrontam-se com a pequenez da condição humana.
3. A Vida Invisível, de Karim Aïnouz
Um poderoso melodrama, retrato da condição feminina num Brasil moralista dos anos 50, cada vez mais próximo da atualidade, A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, recebeu o prémio Un Certain Regard, no Festival de Cannes, e foi indicado pelo Brasil para os Oscars. É uma boa amostra da diversidade e qualidade crescentes no cinema brasileiro contemporâneo.
4. O Fim do Mundo, de Basil da Cunha
Basil da Cunha entrou num bairro da Amadora, para contar as suas histórias e saiu com um filme que ganhou prémio no IndieLisboa. O Fim do Mundo conta uma história de crime, amor, delinquência e amizade num bairro de lata da Reboleira – prestes a ser desmantelado –, de uma forma tão cúmplice e detalhada que só está ao alcance de quem se confunde com os seus habitantes. Um filme empolgante, com uma linha narrativa bem construída.
5. O Mal Não Existe, de Mohammad Rasoulof
É uma obra de arte e um heroico ato de resistência. Depois de fazer O Mal Não Existe, o realizador iraniano Mohammad Rasoulof foi condenado a um ano de prisão. No filme, Rasoulof fala-nos de heróis que se recusaram a acatar ordens que implicavam a morte de um terceiro. Contudo, e ao contrário do que se possa pensar, O Mal Não Existe está longe de ser um filme panfletário, de propaganda, que apela diretamente ao derrube do regime denunciando os seus excessos.
6. Corpus Christi – A Redenção, de Jan Komasa
Nomeado para um Oscar, Corpus Christi – A Redenção faz uma poderosa reflexão sobre fé, religião, o indivíduo e a sociedade. Neste filme polaco, acompanhamos Daniel, jovem que, após se ter convertido ao cristianismo num centro de detenção, goza de liberdade condicional e, por um acaso do destino (ou vontade de Deus), faz-se passar por padre e por pároco numa remota vila algures na Polónia. O falso padre, mais perto da essência do cristianismo do que qualquer outro, revela-se a maior bênção que aquela terra já teve.
7. Os Miseráveis, de Ladj Ly
Vinte cinco anos depois de O Ódio, filme basilar de Mathieu Kassovitz, eis outro grande filme sobre a tensão social quotidiana nos subúrbios de Paris. Os Miseráveis, de Ladj Ly, inspirado no clássico da literatura francesa, tem tido grande impacto e gerado debate. Foi, mesmo, nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (a concorrência era forte) e fez de Ladj Ly a maior revelação do cinema francófono dos últimos anos.