A certa altura, René Lalique (1860-1945) proferiu que desejava criar as suas joias como “algo que ainda não vimos”. A ambição cumpriu-se: o artista francês criou, tendo como pano de fundo a vibrante época dominada pela sensibilidade às artes e ciências e o florescimento da Arte Nova, peças belíssimas que iam buscar à Natureza, à fotografia, à escultura, ao motivo da mulher-flor e a musas inspiradoras como Sarah Bernhardt traços delicados e uma tridimensionalidade patentes em pregadores, gargantilhas, pulseiras…
Obras que pareciam povoadas por personagens de fábulas nórdicas ou orientalistas, com criaturas de cabelos esvoaçantes e impercetível melancolia, como as jovens nas telas de John William Waterhouse, com mulheres-orquídeas, libélulas, serpentes feitas de matérias preciosas… e vidro.
Lalique preferia a luz e a transparência à espessura do marfim e do chifre (sim, eram tempos distantes da consciência ecológica), associando pérolas, rubis e safiras a vidro despolido, trabalhado com finura de relojoeiro. Esse vanguardismo inspirado mudou o conceito da joia – algo testemunhado numa mostra realizada, em 1988, no Museu Gulbenkian (que alberga cerca de 200 peças suas, mercê da amizade que uniu Lalique e Calouste).
Trinta e dois anos depois, esta exposição revela cerca de 100 peças, num percurso cronológico entre a Exposição Universal de 1900 e a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925, realçando tanto a originalidade do joalheiro como a mestria e o vanguardismo do mestre vidreiro que, em 1922, instalou fábrica própria na Alsácia. Lalique queria, então, criar exclusivamente produção vidreira orientada para o consumo alargado. Arte democrática, pois, sempre usando o vidro como “uma espécie de material ‘onírico’.”
René Lalique e a Idade do Vidro > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 5A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 1 fev, qua-seg 10h-18h > grátis