As descrições dos crimes parecem retiradas das páginas de um romance policial. É o caso da coleção de dez quadros de Aurélia de Souza, guardados no “corredor escuro da casa de uma família tradicional do Porto, habitada por uma idosa que não lhes prestava especial atenção”. Roubada pelo neto, que se encarregou de mandar fazer umas réplicas pouco credíveis, estas só viriam a levantar as suspeitas de outro familiar, por mero acaso, durante a celebração de um Natal. Olhando agora para os exemplares, percebe-se a imitação grosseira das pinturas, mas na sala dedicada às obras de arte falsificadas, é notório o talento de outras cópias, capazes de iludirem especialistas e comerciantes de arte experientes.
Invariavelmente, os criminosos aplicavam o seu génio criativo na imitação de nomes bem conhecidos das artes plásticas, como Picasso, Miró, Chagall, Mário Cesariny, Paula Rego, Manuel Cargaleiro, Júlio Pomar, só para enumerar algumas das 200 obras apreendidas em operações policiais nos últimos 15 anos, reveladas em A Arte do Falso.
A exposição é uma parceria entre o Centro de Congressos da Alfândega do Porto e a Polícia Judiciária – Diretoria do Norte, e insere-se no programa das comemorações do 75º aniversário desta instituição de investigação criminal. Nem só de quadros vive a mostra, espalhada por 1000 m2, revelando também o engenho na falsificação de moeda e de metais preciosos, na viciação de veículos automóveis, no fabrico de armas ou na dissimulação e transporte de estupefacientes (de ursinhos de peluche a objetos decorativos, vale tudo).
“Os temas e os objetos apresentados pretendem trazer ao conhecimento do público narrativas significativas de falsificações e falsificadores, elementos adulterados ou mecanismos de falsificação recolhidos durante os processos de investigação”, assim como querem “alertar para os cuidados que todos nós, no exercício de uma cidadania que se deseja informada e ativa, devemos ter para evitar o nosso envolvimento em contextos falsos”, lê-se no texto de apresentação da mostra. Ao longo da exposição, aliás, não faltam avisos sobre os cuidados que todos podemos ter, seja a adquirir uma obra de arte, a usar uma caixa de Multibanco ou a gerir perfis nas redes sociais.
Em cada secção são revelados alguns casos curiosos – o esquema fraudulento montado por Alves dos Reis será o mais conhecido, mas também há uma máquina com poderes curativos dos equilíbrios energéticos, criada por um médico burlão –, com as operações policiais a exibirem nomes certeiros como “Vasco da Gama”, relativo ao desmantelamento de uma rede de contrafação de notas de escudo com a efígie do navegador português.
Para atrair os miúdos, foram criadas réplicas de uma sala de identificação de suspeitos e de um laboratório de polícia científica, onde podem colher as impressões digitais. Uma forma de os levar, a eles e aos graúdos, “para o lado certo da força”.
A Arte do Falso > Centro de Congressos da Alfândega do Porto > R. Nova da Alfândega, Porto > T. 22 340 3000/24 > até final de dezembro, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > grátis