Fartos que estamos das necessárias limitações impostas para travar a Covid-19, ver um beijo daqueles, ali, à nossa frente, é de uma beleza que nos pode fazer chegar às lágrimas. Depois de várias incursões, em trança, entre os corpos de um homem e de uma mulher, o eixo do movimento passa a ser o ponto em que as duas bocas se tocam, e são os corpos, deitados, que passam a rodar em torno desse beijo, intenso, apaixonado. Estes dois bailarinos são marido e mulher. Este pequeno momento lembra-nos a falta que as manifestações de calor humano, de afeto, de toque, fazem na nossa vida, nos dias que correm.
Depois de Autópsia, é esse clamor por um mundo pós-doença, pós-negatividade, pós-apocalíptico que Olga Roriz vem apresentar, agora, no Teatro Nacional D. Maria II, em Seis Meses Depois. “É uma peça muito baseada na ficção, num tempo para a frente. Está claro que a dança é muito ambígua – e ainda bem –, mas, para nós, isto passa-se em 2307, no planeta não sei das quantas, com personagens que precisam de revisitar o passado e entram numa espécie de arquivo de vivências virtuais”, diz a coreógrafa, que, com este espetáculo, celebra os 25 anos da sua companhia.
Este espetáculo é sobre “a humanidade que perdura em cada um de nós”. Também por isso, as receitas da sessão do dia 18 revertem para a família de Bruno Candé, o ator assassinado em julho.
Seis Meses Depois > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T 21 325 0800 > 18-20 set, sex 21h, sáb 19h, dom 16h > €9-€16