Na sua primeira longa-metragem, Alice, em 2005, Marco Martins contava a história de um pai que montava um sistema de vídeo numa busca desesperada por alguma pista que o levasse à filha desaparecida. Nesse filme, Gonçalo Waddington, ainda muito jovem, tinha um papel secundário, mas certamente foi uma experiência marcante. Patrick, a primeira longa de Gonçalo Waddington, poderia ser um Alice do outro lado do espelho. Os pormenores são diferentes: realidade urbana vs. rural; feminino vs. masculino; pai desesperado vs. mãe deprimida. Mas, na sua essência, os filmes complementam-se e quase poderiam ser vistos como uma sequência.
Marco Martins deu-nos a angústia do desaparecimento de uma criança, colocando-nos do lado do visível, do palpável, do desesperadamente misterioso e inexplicável. Waddington vai até ao lado oculto, apoderando-se do mistério, descrevendo o inexplicável, partindo de um ponto de não retorno para uma tentativa exasperante de recuperação do passado. O filme de Marco Martins é um drama proativo, em que há uma atitude convicta e persistente de resolução de um problema. Patrick é um drama passivo, em que o autor se interessa mais pelas sequelas psicológicas e propõe-nos um paciente percurso, ao ritmo dos psicanalistas. O jovem adulto que se encontra em Patrick não responde à angústia da criança perdida em Alice. Pelo contrário, apenas a adensa.
Hugo Fernandes é a grande revelação de Patrick. Este é o primeiro grande papel do jovem ator francês, lusodescendente, nascido em 2000, que tem um percurso sobretudo de curtas-metragens e séries televisivas.
Gonçalo Waddington é certeiro no retrato de Patrick, a criança raptada e levada para a Bélgica, e Hugo Fernandes, excelente, transmite a profundidade do seu trauma a cada esgar. Contudo, há uma crueldade porventura excessiva no retrato da mãe, que põe em causa as populares teorias do instinto maternal, como que numa inversão de Édipo.
Patrick, já premiado e aplaudido, é uma estreia mais do que auspiciosa de Gonçalo Waddington. É sobretudo um argumento muito trabalhado. Mas, ao contrário do que aconteceu na primeira obra de Marco Martins, fica aqui nitidamente a ideia de estarmos perante um cineasta em formação, cuidadoso na abordagem, mas a quem ainda falta descobrir uma voz.
Veja o trailer do filme:
Patrick > De Gonçalo Waddington, com Hugo Fernandes, Alba Baptista, Adriano Carvalho, João Pedro Bénard