A personagem foi buscá-la à commedia dell’arte, a comédia dita popular que surge no século XV como contraponto à comédia erudita da altura. Indivíduos com jeito para o anedótico e capacidade de satirizar a sociedade de forma instintiva reuniam pessoas à sua volta espontaneamente. Por isso se chamava também commedia all’improviso. Aquilo a que hoje chamamos, na verdade, stand-up comedy. É assim esta personagem de aventuras criada por Dario Fo: um marinheiro que, para fugir à Inquisição, decide embarcar na quarta expedição de Cristóvão Colombo às Américas.
Convém dar contexto a Johan Padan a la Descoverta de le Americhe, que foi representado pela primeira vez em 1991, em Trento, com o próprio Fo como protagonista. Depois da sua morte, em 2016, as suas peças passaram a ser representadas por Mario Pirovano, que estará no Salão de Festas do Incrível Almadense desta quarta, 15, a domingo, 19.
Dario Fo e a mulher, a dramaturga e atriz Franca Rame, foram ativistas políticos, ligados à esquerda intelectual italiana, e a sua companhia e obra advogaram sempre uma ideia de teatro provocatório, enquanto exercício de cidadania e democracia. Johan Padan… não é exceção. Inspirado por anos de pesquisa em diários de navegadores da época renascentista, Fo inventou uma língua para colocar na voz de Padan, a língua grammelot, que aglomerava o italiano antigo de Génova, Veneza ou Náploes, o catalão, o castelhano, o português e o árabe, e já nesta opção se denota uma postura humanista, aglomeradora. Foi Franca Rame quem traduziu o texto para italiano moderno.
No prólogo, e sempre numa construção de pontes com o presente, Fo compara Isabel, a Católica, patrona das viagens de Colombo, aos nazis, ao ter mandado expulsar os judeus do reino com o proveito económico-financeiro na mira.
Johan Padan a la Descoverta de le Americhe > Incrível Almadense > R. Capitão Leitão, 3, Almada > T. 21 275 09 29 > 15-19 jul, qua-sex 21h30, sáb-dom 15h > €10