Na tarde de sábado, 20 de junho, no pátio/esplanada que se esconde atrás da livraria e galeria Tinta nos Nervos, especializada em BD e ilustração, Edmond Baudoin falava para uma pequeníssima plateia (ampliada pela transmissão em direto online). Sobre tudo, sem precisar de perguntas ou de um guião pré-definido. Tem 79 anos, mas quando fala do seu trabalho é como se uma energia sempre juvenil apagasse esse facto biográfico. Por esta altura, se a pandemia não nos tivesse trocado as voltas a todos, teria viajado até à Síria, em mais uma viagem que daria origem a pranchas desenhadas que devem tanto à banda desenhada, como à ilustração ou à literatura – ou mesmo à música, como fez questão de demonstrar, desenhando, nessa tarde lisboeta.
Baudoin é um precursor de subgéneros da BD que se têm afirmado neste século. O lado de narrativa autobiográfica (Marjane Satrapi, Riad Sattouf…) ou a novela gráfica com traços de jornalismo ou de relato de viagens (Joe Sacco, Ricardo Cabral…) já estava, há muito, presente nos livros deste artista nascido em Nice que nunca se sentiu especialmente próximo da “gramática da banda desenhada” clássica e acredita que esse género ainda está a “balbuciar” o seu futuro.
Nas paredes da galeria Tinta nos Nervos podem ver-se agora vários trabalhos originais, em tinta-da-china sobre papel, de três projetos recentes do autor: Le Corps Collectif (2019), resultado de um convívio prolongado com uma companhia de dança contemporânea; Humains, la Roya est un fleuve (2018), colaboração com Jean-Marc Troub centrada nas vidas de migrantes económicos e refugiados, que já os levou a Ciduad Juaréz, no México, a Bogotá, Colômbia, e, agora, a uma pequena zona fronteiriça entre França e Itália; e La Traverse (2019), coassinado com Mariette Nodet a partir de uma viagem desta esquiadora de competição e trekker pelos Himalaias.
La Ligne, un Horizon; Le Corps, une Rivière > Livraria e Galeria Tinta nos Nervos > R. da Esperança, 39, Lisboa > T. 21 395 1179 > até 5 set, qua-dom, 11h-18h > grátis