Numa entrevista à plataforma online VDrome, a dupla brasileira Bárbara Wagner & Benjamin de Burca recorda que o “brega”, manifestação musical emergida nos anos 1970 como contraponto à bossa nova, era tradicionalmente visto pela elite como um estilo musical kitsch, realizado por “gente pobre mas glamorosa” que, hoje, através da democratização da tecnologia (e da cultura do narcisismo nas redes sociais), serve às novas gerações das periferias para tornarem os seus corpos e vozes visíveis e mediáticos. Logo, é um meio para o elevador social funcionar, trazendo-lhes sucesso e riqueza. É a cultura popular a assimilar regras do capitalismo, conclui-se.
Trabalhando com artistas da música ou dança, Wagner & Burca contribuem para uma estratégia de desocultação e legitimação dessas práticas culturais, e, de caminho, vão questionando noções de gosto, raça, hierarquia cultural, etnia, centro versus margens e até o empoderamento das tribos pós-YouTube/Facebook/Instagram. Estás Vendo Coisas apresenta duas videoinstalações: RISE, referência ao acrónimo Reaching Intelligent Souls Everywhere, que batiza o grupo de performers de spoken word com que a dupla de artistas trabalhou, foi filmada numa estação de metro em Toronto, com artistas canadianos de ascendência africana e caribenha; Estás Vendo Coisas regista a atuação, orquestrada ao detalhe, numa discoteca, de dois cantores brega, o cabeleireiro MC Porck e a bombeira/cantora Dayana.
Estás Vendo Coisas > Galeria da Boavista > R. da Boavista, 50, Lisboa > T. 91 305 9858 > até 12 abr, ter-sex 14h30-19h, sáb-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis