Numa entrevista recente, Woody Allen afirmou que não queria saber da posteridade. Um Dia de Chuva em Nova Iorque também não será dos filmes que o farão “eterno” (há muitos outros que sim). O realizador, aos 83 anos, chegou àquela fase em que cada filme novo é uma bênção, para si e para o público. Celebre-se, então, o cinema de Woody Allen.
Um Dia de Chuva em Nova Iorque tem aquele grau de envolvimento e encantamento mínimo que permite uma hora e meia de leve e bom entretenimento, como costuma acontecer mesmo nas piores comédias do realizador. Nesse sentido, dificilmente um filme de Woody Allen poderá ser considerado mau, mas diga-se que este também não é brilhante. O que até contrasta com o anterior, Roda Gigante, magnífico objeto tardio, obra maior quando já poucos esperavam que chegasse a momentos de grande forma.
Ao contrário de Roda Gigante, Um Dia de Chuva em Nova Iorque tem como contexto a alta sociedade, snob e democrata, nova-iorquina, o que não é novo em Woody Allen, que sempre gostou de abordar as elites. Menos usual é o facto de os seus protagonistas serem jovens universitários, decorrendo assim de forma diversa as dinâmicas, o florescimento dos casais e as opções de vida. Allen está em casa, na sua Manhattan, e recicla personagens e situações de outros filmes, sempre no limiar do autoclichê, mas desviando-se em boa hora, trabalhando de forma assumida com a previsibilidade e não levando as situações a extremos de comédia. Momentos como a prostituta que faz de noiva num jantar de família não são explorados em todo o seu potencial cómico, Allen tem consciência de que está a repetir-se (no caso, evoca a personagem de Penélope Cruz em Para Roma, com Amor, que por sua vez homenageava O Sheik Branco, de Fellini).
Problema maior deste novo filme é Gatsby, personagem interpretada por Timothée Chalamet, que se torna enfadonha no seu discurso mais do que perfeito. Já em Ashleigh (Elle Fanning), descobre-se um retrato mais perspicaz, de uma falsa inocência que preserva alguma ingenuidade em plena era do vislumbre pós-adolescente. Mais interessante, e mais woodyallenesca, é Shannon, interpretada por Selena Gomez, com deixas espirituosas e eficazes, e um interessante jogo narrativo, como se a personagem tivesse consciência da sua condição de personagem e proclamasse o direito à fantasia amorosa.
Veja o trailer do filme:
Um Dia de Chuva em Nova Iorque > De Woody Allen, com Elle Fanning, Timothée Chalamet e Selena Gomez > 92 minutos