É raro encontrar um filme português onde se sinta de forma tão clara o pulsar da contemporaneidade. Sobretudo, que explore as redes sociais enquanto manancial de intriga romanesca. Linhas Tortas é uma história de amor em tempos de Twitter. A rede social poderia ser outra, o Facebook ou o Instagram. E até, remotamente, as cartas anónimas, se bem que se perderia a questão do imediatismo, que marca a diferença em relação à intriga camiliana.
Encontramos António, um veterano cronista político, que vive num esforço inglório para se adaptar aos tempos modernos, numa família disfuncional, com um filho adulto que tarda em sair de casa. No Twitter, António transforma-se em Rasputin, uma endiabrada personagem, que manda tweets espirituosos. Pelos encantos da sua escrita online deixa-se seduzir Luísa, uma jovem atriz, em princípio de carreira.
Os dois trocam intensamente mensagens. Ele sempre anónimo, ela sem medo de mostrar-se e desejando um encontro. Uma relação improvável, que a construção bem trabalhada do argumento torna praticamente impossível. Linhas Tortas é um filme de argumento, com uma intriga edipiana, em que certas fragilidades são compensadas pela força universal da história que tem para contar. Uma primeira longa de Rita Nunes, realizadora com um percurso irregular, que conta com boas interpretações de Joana Ribeiro e Américo Silva.
Veja o trailer do filme:
Linhas Tortas > De Rita Nunes, argumento de Carmo Afonso, com Joana Ribeiro, Américo Silva, Miguel Nunes, Ana Padrão > 68 minutos