Lutar por um Brasil mais diverso e inclusivo tem sido o propósito de muitos artistas do “país irmão”, numa altura em que o autoritarismo do poder político faz temer um futuro sombrio. Gonçalo Amorim, diretor artístico do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), fala de “uma postura revolucionária e descolonizada” da classe artística, interessada em levar à cena questões como a cultura queer, o “afropolitismo” ou o empoderamento da mulher e do negro.
Nesta 42ª edição do FITEI, que se debruça sobre o tema Brasil Descolonizado, estarão representadas múltiplas vozes desta resistência, de diferentes latitudes, de Curitiba ao Rio de Janeiro. Entre elas, a de Felipe Hirsch, um dos grandes encenadores brasileiros do momento, que traz ao Porto o espetáculo Democracia, construído a partir da obra Facsímil, do escritor chileno Alejandro Zambra, que utiliza o modelo dos testes de escolha múltipla para explorar as contradições e complexidades deste sistema político.
A diversidade artística das propostas vai desde os multipremiados monólogos de Renato Livera, Colónia, em formato palestra-performance (18 mai, sáb, 18h, Teatro Municipal Sá de Miranda, Viana do Castelo; 22 e 23 mai, 19h, Palácio do Bolhão, Porto), e de Grace Passô, Vaga Carne (18-19 mai, sáb 22h30, dom 19h, Mala Voadora, Porto), a lutar contra o estereótipo da mulher negra, até ao iconoclasta Tchekhov é um Cogumelo (18-19 mai, sáb 21h, dom 16h, Teatro Nacional São João, Porto), adaptação livre da peça Três Irmãs, que combina ficção, memória e neurociência (as ondas cerebrais do encenador André Guerreiro Lopes acionam uma instalação sonora e visual).
O festival encerra em grande, com Odisseia (25 mai, 19h, Teatro Municipal Rivoli) da companhia Hiato, que convida o público a assumir o lugar do ausente Ulisses ouvindo as narrativas das personagens femininas criadas por Homero, entrecruzadas pelas histórias pessoais do elenco. Um espetáculo com 4h30 de duração, com intervalos para “comer sopa e beber cachaça”. No final, provavelmente, virão à memória as palavras de Chico Buarque: “Sei que há léguas a nos separar/ Tanto mar, tanto mar/ Sei também quanto é preciso, pá/ Navegar, navegar.” Pela descolonização do pensamento.
Democracia > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 18 mai, sáb 19h > €10 > FITEI-Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica > até 25 mai > €5-€16