“Não sou uma pessoa de começos nem de finais, sou uma pessoa do meio.” Esta frase, dita por uma atriz do lado de dentro do guichet das bilheteiras do São Luiz, podia definir Ocupação, um “espetáculo em percurso” produzido pelo Teatro do Vestido, que decorre, a partir de quarta, 24, em vários espaços, dentro e fora, do teatro da Rua António Maria Cardoso, a mesma onde ficava a sede da PIDE. Em mês de celebração da Liberdade e integrada na programação dos 125 anos do São Luiz, esta peça dá fluidez às histórias e memórias que habitam o imaginário daquele teatro, tornando não lugares em lugares e lugares em não lugares. Sem começos e sem finais, a proposta é a de uma viagem, site-specific.
“Rapidamente, o espetáculo deixou de ser comemorativo para ser evocativo. É uma viagem poética pelo fazer teatral, mais do que só pela história do teatro”, diz Joana Craveiro, do Teatro do Vestido. “Primeiro, ouvimos pessoas que tivessem histórias para contar sobre o teatro. Lançámos um repto. Não tivemos assim tantas respostas, embora tenhamos tido algumas que foram cruciais e acabámos depois por contar.” Numa dessas entrevistas, um casal evocou o filme O Último Ano em Marienbad, de Alain Resnais, para falar sobre a plasticidade da ideia de memória. “Havia algumas memórias de espectadores, de atores, havia a nossa própria experiência. E havia outras peças que outros atores tinham feito e acabou por desenhar-se este percurso, que é um bocadinho anárquico.” Entre elas, houve duas peças censuradas pela PIDE, cujos excertos são agora representados: A Voz Humana, pelo facto de ser interpretada por Maria Barroso, e A Mãe, do polaco Stanislaw Ignacy Witkiewicz, que aborda temas como a cocaína. Em Ocupação, o processo de criação e ensaio é também trazido para dentro da própria peça. “Temos este ponto de partida que é: ‘Boa-noite, não sabemos bem.’”
Ocupação > São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 24-30 abr, seg-dom 21h > €12