Ver os bailarinos Francisco Sebastião e Miyu Matsui, da Companhia Nacional de Bailado (CNB), a dançarem com a qualidade de primeiros bailarinos um repertório clássico, no palco do Teatro Camões, é um regalo para os olhos, pela leveza e pela harmonia que conferem à dificuldade técnica dos movimentos. Na reposição, 29 anos depois, do Dom Quixote encenado por Eric Volodine para a CNB, a partir da versão de Alexander Gorski datada de 1900, Sebastião e Matsui são Basílio e Kitri, um par de enamorados que entra em dois capítulos da obra magna de Miguel de Cervantes, cujo amor não é aprovado pelo pai da donzela.
“Eu acho que muito do interesse desta reposição está na interpretação dos novos bailarinos”, sustenta Francisco Sebastião. “Se virem o vídeo da versão antiga, haverá diferenças entre as interpretações, apesar de a coreografia ser a mesma. A dança evoluiu de maneira muito técnica. E neste bailado há muito espaço para as interpretações, porque tem um lado cómico e há personagens com personalidades muito destacadas”, acrescenta o bailarino de 23 anos que ganhou uma bolsa para estudar durante três anos na San Francisco Ballet School (prémio de um triunfo em Lausanne em 2013).
“Tecnicamente, o papel é difícil. É muito de dar espetáculo, entre aspas. Tem de se mostrar o virtuosismo da técnica masculina de dança – piruetas, saltos – e também o estilo. A interpretação é sempre um bocadinho mais difícil para mim do que a técnica. Esta personagem é muito extrovertida, muito mulherenga, um pouco o oposto do que eu sou. Mas é divertido.” Os cenários são os de 1990 e é como se lhes cheirássemos o mofo e nos soubesse bem esse regresso ao passado.
Dom Quixote > Teatro Camões > Passeio de Neptuno, Parque das Nações, Lisboa > T. 21 892 3470 > até 17 mar > qui-sex 21h, sáb 18h30, dom 16h > €5 a €19