Estão lá as rubricas de poesia de João Villaret, os diálogos radiofónicos de Olavo D’Eça Leal, as músicas de Maria de Lurdes Resende e de Artur Garcia, o correio sentimental Cousas Caseiras e outras atrações, vozes, jingles e notícias que marcam a nossa memória coletiva. Mais do que qualquer outro meio de comunicação, a rádio pública foi a ferramenta perfeita para a propaganda do regime e a doutrinação ideológica. Neste segundo capítulo do ciclo Casa Portuguesa do Teatrão (após Eu Salazar), a companhia estuda as correlações entre a política cultural do Estado e a programação da Emissora Nacional (EN). “Esta é também uma reflexão sobre o atual momento de regresso do populismo e das ideologias totalitárias, e a forma como os meios de comunicação são veículos de ideias”, sublinha Isabel Craveiro, que assume a direção d’A Grande Emissão do Mundo Português.
Assente no formato café-teatro, o espetáculo reproduz um programa radiofónico, ao longo de 21 anos – desde a entrada de António Ferro na direção da EN, em 1940, até ao assalto ao paquete Santa Maria, em 1961, ação que expôs a ditadura portuguesa perante o mundo –, concentrados numa emissão única, gravada com o público em estúdio. “Teatralizar a rádio pode parecer estranho, mas, para os atores, foi um grande desafio trabalhar com esta ideia de que a voz é o mais importante e de que, do outro lado, tudo tem de parecer perfeito”, conta Isabel Craveiro. Coproduzido com a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, o programa vai acusando a passagem do tempo, com algumas notas dissonantes e imprevistos a desgastarem a eficiente máquina de encenação de um País.
A Grande Emissão do Mundo Português > Oficina Municipal do Teatro > R. Pedro Nunes, Quinta da Nora, Coimbra > T. 239 714 013 > 21 dez-20 jan, qua-sáb 21h30, dom 18h > €4 a €10