
A atriz Beatriz Batarda protagoniza esta peça juntamente com Rui Mendes, João Grosso, Lúcia Maria e Cirila Bossuet
Filipe Ferrreira
Quando é que começamos? Em que medida é que o limite do soalho do palco traça verdadeiramente a fronteira entre o que é teatro e o que é vida? Um passo para lá da boca de cena e saímos do âmbito da representação? A peça escrita e encenada pela estrela pop do teatro francês Pascal Rambert para o início de temporada do Teatro Nacional D. Maria II, neste sábado, 15, traz tudo isso para dentro de cena. Em Teatro, os atores Beatriz Batarda, Rui Mendes, João Grosso, Lúcia Maria e Cirila Bossuet bem podiam descer as escadas de acesso à plateia e continuar vida fora, sem que qualquer dispositivo fosse chamado a separar as águas.
“O Tiago [Rodrigues, diretor do TNDMII] disse-me que queria que eu escrevesse para estes atores. Conheci-os e pedi alguém como a Cirila, porque queria um participante que não fosse branco – como o somos todos, aqui, neste teatro; queria alguém que fizesse parte do passado deste País”, refere Pascal Rambert. “Falei imenso com o Rui [Mendes] e, quando ele me disse que o avô era também ator, disse-lhe ‘ok, não preciso de saber mais, isso chega-me.’ A forma como escrevo passa por tirar energia das pessoas.”
Os atores mantêm em cena os seus nomes próprios, são atores a representar atores. Em Teatro, a tensão do ato de representação serve de forma constante a interpretação. Rui é um ator consagrado que está a trabalhar numa nova peça, Beatriz uma escritora e está numa relação amorosa com ele. Num longo monólogo, Beatriz segura uma jarra, branca. Um conjunto de cacos em potência, a jarra é o objeto-símbolo que a liga a tudo. Liga as fragilidades da sua relação com o encenador, liga as fragilidades da sua relação com a mãe, liga as fragilidades da sua relação com os irmãos – e há uma festa de aniversário pelo meio.
“O trabalho do teatro é alargar o imaginário das pessoas, tudo o que é deixado assim [entrelaça as mãos num sinal de aperto, de compressão]…”, conta Pascal Rambert, que teve uma peça, Actriz, apresentada na última edição do Festival de Teatro de Almada, em julho. “Temos uma forma de nos fecharmos e o trabalho do teatro é criar abertura, o tempo todo.”
Teatro > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 15 set-14 out, qua e sáb 19h, qui e sex 21h, dom 16h > €10 a €17