
Vinte anos depois do primeiro encontro, Tiago Rodrigues volta a juntar-se à companhia belga tg STAN, colocando em cena atores nacionais (Isabel Abreu e Pedro Gil) e belgas (Frank Vercruyssen e Jolente de Keersmaeker)
Filipe Ferreira
Uma mulher lê Anna Karenina na Lisboa de 1967. Um homem lê Anna Karenina na Antuérpia de 2017. Apesar de tudo o que os separa, ambos sentem o impacto do romance de Leon Tolstoi no momento de tomarem decisões nas suas vidas. “O espetáculo fala de sermos habitados por personagens de livros e da influência que eles podem ter no nosso quotidiano”, explica o autor do texto, Tiago Rodrigues, atual diretor do Teatro D. Maria II, em Lisboa. Vinte anos depois do primeiro encontro, o dramaturgo volta a juntar-se à companhia belga tg STAN, colocando em cena atores nacionais (Isabel Abreu e Pedro Gil) e belgas (Frank Vercruyssen e Jolente de Keersmaeker), unidos nesta cocriação de Como Ela Morre pelo “prazer das palavras”.
Anna Karenina, muito mais do que a história de uma mulher que deixou o marido, é uma bíblia sobre questões tão existenciais como a procura da felicidade. O belga lê a obra 140 anos depois da publicação, sendo um possível descendente daqueles que a leram meio século antes, mas a questão temporal não é essencial, antes instrumental: “Não queremos falar de como eram as sociedades portuguesa e belga em determinada época, mas o facto de as personagens estarem nesses contextos permite-nos falar da vida, da morte, da solidão ou do amor de forma diferente.” A ideia de felicidade de quem combateu na Guerra Colonial será sempre diferente da de quem não teve essa vivência brutal.
“A morte de Anna Karenina é a melhor morte da história da literatura. Quando a li, estragou-me o dia e salvou-me o dia”, avalia Tiago Rodrigues, que sempre se interessou pelos efeitos reais da experiência transcendente da leitura. Igualmente emblemática é a primeira frase do romance: “As famílias felizes são todas iguais; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.” Em cena, como na vida.
Como Ela Morre > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 800 213 250 > 9-19 mar, qua 19h, qui-sáb 21h e dom 16h > €5 a €17
Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 22-25 mar, qua-sáb 21h > €7,50 a €16