Não é um grande filme, mas é uma grande história. Uma história baseada em factos verídicos, absurdamente trágica, rocambolesca, passada no final da II Guerra Mundial, tempo em que o homem atingiu o pico da sua malvadez bárbara. Uma história pouco conhecida e, durante muito tempo, mantida secreta, ofuscada pelo horror do holocausto. As freiras de um convento católico, na Polónia, foram sucessivamente violadas por vagas de soldados. Primeiro pelos alemães que anexaram o território, depois pelos russos que o vieram libertar. Pelo menos 20 morreram e 25 ficaram grávidas, sem acesso a cuidados médicos, pois deliberaram internamente que, devido ao embaraço e ao crivo social, tais acontecimentos não seriam revelados. Contudo, já no final da guerra, uma médica da Cruz Vermelha francesa tomou conta da ocorrência, tendo ajudado muitos bebés a nascer. Foi através do relato dessa médica que a história se tornou pública.
A realidade é ainda mais violenta do que aquilo que o filme mostra. Anne Fontaine poupa-nos à exibição dos hediondos crimes sexuais e leva-nos imediatamente para as consequências. A perspetiva que nos oferece é essencialmente a da médica que, por acaso e boa vontade, se vê envolvida num cenário dantesco e tem que socorrer duas dezenas de mulheres inocentes e indefesas. Não há de amenizar a barbárie, mas Fontaine esforça-se para não dar de caras com a tragédia e encontrar no final um ponto de fuga. Também para permitir que, pelo menos, uma daquelas mulheres pudesse escapar do pesado futuro que a História trouxe, nas décadas seguintes, à Polónia. E nós quase que nos sentimos aliviados.
Agnus Dei > De Anne Fontaine, com Lou de Laâge, Vincent Macaigne, Agata Buzek > 115 min