Aquilo que se passa entre as quatro paredes das sessões de psicoterapia ali deve ficar, por ser essa a regra de ouro da prática clínica: o chamado setting. Num documentário inédito, o setting entra no set de filmagens, terapeuta e paciente entram em cena – o gabinete de consulta – e dão-nos um vislumbre do impacto de uma terapia. Agora, as advertências: a dinâmica que ali se passa está longe de ser convencional; os protagonistas são figuras icónicas e assumem papéis um tanto ou quanto improváveis face ao esperado numa consulta tradicional.
A realização de Stutz cabe ao popular ator Jonah Hill, que ganhou projeção em filmes como Super Baldas e foi duas vezes nomeado para os Oscars (Moneyball – Jogada de Risco e O Lobo de Wall Street), desempenhando ainda o papel de entrevistador. A “estrela” é o psiquiatra Phil Stutz, famoso pela sua abordagem diretiva e assente em cinco ferramentas de autoajuda (livro O Método), que acompanhou empresários de sucesso e celebridades do meio artístico, incluindo o próprio Hill.
A meta inicial do projeto era homenagear o trabalho do médico veterano – atualmente tem 75 anos e vive com Parkinson – e divulgar as suas dicas para mudar estilos de vida, com ganhos em saúde mental, a um público vasto, até por uma razão bem óbvia: nem todos podem pagar uma psicoterapia. O processo durou vários anos e não foi isento de encruzilhadas. Por exemplo, o realizador-paciente mostrou-se avesso a falar dele durante as gravações mas, a certa altura, aceitou o repto do ‘psi’ e acabou por, também ele, abrir o jogo. A partir daí, tudo mudou.
Na sala, ou set, entre desenhos, fotografias, diálogos e pausas, passamos a ver, não duas celebridades mas dois homens que expõem, de forma desassombrada, as suas vulnerabilidades: traumas de infância, problemas com a imagem, dramas familiares, estados depressivos e maleitas com as quais se convive até ao fim. Uma relação tocante e irreverente que transcende as regras do setting e mostra como a riqueza e a fama não nos livram de três verdades inerentes à condição humana: dor, incerteza e trabalho constante. Palavra de Stutz.
Stutz > Netflix > Documentário > 96 minutos