Primeiro viúvo logo a abrir o quinto episódio de House of the Dragon: Daemon Targaryen, o vilão. Morreu-lhe a mulher, que é uma forma simpática de esconder o facto de Daemon ter dado um grande empurrão para alterar o seu estado de casado a viúvo.
O incontrolável irmão do rei, depois de ter sido expulso por ter intimidades com a sobrinha Rhaenyra, herdeira do trono, dirige-se ao Vale, domínio da sua mulher, fá-la cair do cavalo e esmaga-lhe a cabeça. Está feito. Fica Daemon livre para desposar a sobrinha, quer ele, quer ela, e mais ninguém quererá aquela união.
Até porque, logo a seguir, vai o rei Viserys de barco, enjoadíssimo, a caminho de Maré Alta, sede da Casa Velaryon. O argumento não perde uma oportunidade de mostrar Viserys como um rei fraco, ora a vomitar ora a tossir. Mas porque não foi o homem de dragão? Seria uma viagem muito mais confortável e, ao mesmo tempo, possante.
Mas não, chega a Maré Alta mais branco do que o próprio cabelo, não tem direito a comité de boas-vindas e ainda vai encontrar Lorde Corlys sentado num trono. O Targaryen, senhor dos dragões, verga-se a Velaryon, descendente orgulhoso da antiga Valíria, descrito nos livros de George R. R. Martin como tendo um tom de pele pálido e olhos cor de violeta.
E logo vieram os haters do costume contestar a escolha do fantástico ator britânico Steve Toussaint, cuja presença enche o ecrã de talento e carisma. O seu “crime”? Ser negro. Casado com uma Targaryen, a princesa Rhaenys, o “serpente do mar”, como é conhecido, tem lindíssimos filhos mestiços, de cabelos encaracolados e brancos, sendo o seu herdeiro Laenor o escolhido para casar com Rhaenyra e, quando esta se sentar no trono de ferro, ele será o rei consorte.
Steve Toussaint é um senhor e lidou com esta gente da melhor maneira. Disse simplesmente: “Dragões voadores tudo bem. Cabelos brancos e olhos violeta também. Já um negro rico…”. Talvez a questão seja mesmo essa e não a fidelidade à descrição feita nos livros. Como com Ariel, a pequena sereia.
Halle Bailey canta maravilhosamente e não há argumento possível feito de racionalidade para defender que Ariel é branca ponto final. Desde logo porque as sereias não existem. É preciso dizer muitas vezes, pelos vistos. Depois, existindo, não seriam dinamarquesas, viveriam no fundo do mar. Mais: se Hans Christian Andersen descreveu especificamente o príncipe como tendo olhos pretos como carvão e cabelos negros, a versão da Disney em que aparece como um rapaz de olhos azuis devia ter indignado estes “fanáticos”.
E aqui vamos ao Google e escrevemos “Jesus Cristo”. Carregamos no botão “imagens”. Lá está ele, o loirinho de olhos azuis, com o sagrado coração destacado, que tantas vezes vi nos cartões dos santinhos e nas estátuas dentro das Igrejas. Mesmo quando os cabelos são castanhos (como Diogo Morgado quando representou o Messias), o rosto é claramente europeu, nunca parecido com o dos homens do Médio Oriente. E, no entanto, espreite aqui como poderia ser o rosto de Jesus.
Já vai longa a conversa e voltamos ao que aqui nos trouxe para dizer que as cenas do banquete da celebração do casamento de Rhaenyra e Laenor são visualmente muito bonitas, com um cuidado esmerado nos figurinos e na encenação. Belíssima é também a cena em que o amante do noivo fica com a cara literalmente feita num amontoado de carne viva pelo punho do amante da noiva. O que seria de House of the Dragon sem esta violênciazinha herdada da Guerra dos Tronos?
Finalmente, o banquete é também o lugar ideal para o posicionamento dos protagonistas nas guerras pelo poder. Daemon está lá a tramar das suas. E a surpresa vem de Alicent Hightower, a rainha, outrora a melhor amiga de Rhaenyra. Alicent é agora mãe de um herdeiro macho do rei e, naturalmente, quer ver o seu filho no trono. Vai ser uma grande personagem da intrigalhada política. Ainda por cima, mesmo a fechar o episódio, parece que fica viúva. Será? Mais uma para dar que falar.