Quando se escuta leucotomia pré-frontal (que está na origem da lobotomia) vêm à memória histórias de terror, de pessoas transformadas em seres sem vontade e com o cérebro arruinado. Foi essa a história de Randle (Jack Nicholson) em Voando sobre um Ninho de Cucos, filme realizado por Milos Forman, em 1975. Mas a narrativa da intervenção cerebral criada por Egas Moniz (1874-1955), o neurocirurgião e cientista português que recebeu o Prémio Nobel da Medicina em 1949, tinha outros contornos. Partindo do caso de Teresa de Barros Coelho, mulher de Marcelo Caetano, o último chefe do governo do Estado Novo, sujeita, nos anos 60, a uma leucotomia pré-frontal, o realizador Thomas Behrens faz um raio-X ao método terapêutico de Egas Moniz.
O documentário Uma Conversa em Família cruza este episódio, em particular, com a história da intervenção cerebral, criada com o intuito de tratar, melhorar e até curar certas doenças mentais, como a depressão severa. Ao longo de 60 minutos, através de conversas com dois dos filhos do casal Caetano, Ana Maria e Miguel, conta-se que a mãe sofria de “melancolia, depressão e ansiedade”. Na época, e apesar das reservas, a falta de terapêutica levou os médicos a concluírem que aquele “era o único tratamento possível e aconselhável”, revela Miguel Caetano.
Além de contar a forma como o cientista descobriu e executou a leucotomia pré-frontal, o documentário recorre a imagens da época com intervenções de Pedro de Almeida Lima, cirurgião assistente de Egas Moniz, e a testemunhos, como a psicóloga Maria de Lourdes Bettencourt, que integrava também a equipa. Thomas Behrens inclui ainda abordagens críticas que explicam o abandono desta técnica invasiva.
Uma Conversa em Família > Estreia 14 jan, qui 22h55 > RTP2