1. Ma Rainey: A Mãe do Blues, Netflix
A história decorre nos loucos anos 20 do século XX, durante uma tarde de gravações no Hot Rhythm Recordings, em Chicago. A estrela Ma Rainey (uma quase irreconhecível Viola Davis, pesada, com maquilhagem carregada e dentes de ouro), a única personagem real do filme, considerada “a mãe dos blues”, é aguardada com ansiedade pelos músicos e pelo agente, além do dono do claustrofóbico estúdio.
A diva faz-se esperar e, quando chega, mostra-se temperamental e caprichosa, consciente de que, após terminar o seu trabalho, pouco interessará aos homens brancos que controlam a sua carreira. O trompetista Levee Green (o último papel interpretado por Chadwick Boseman, estrela de Black Panther, que morreu em agosto passado, aos 43 anos) procura um lugar ao sol na indústria discográfica, com os seus arranjos musicais arrojados, mas é desvalorizado pelos demais. À medida que as horas passam, o desgaste toma conta da equipa e a tensão sobe.
Esta adaptação de uma das mais conhecidas peças de August Wilson, duas vezes vencedor do prémio Pulitzer, feita pelo realizador George C. Wolfe (a produção é de Denzel Washington), não procura fugir à estrutura dramatúrgica original e mantém os longos e emocionados monólogos das personagens. É inevitável olhar com mais atenção para a atuação de Boseman, um magistral testamento do seu talento. Netflix
2. Mank, Netflix
Neste filme-biografia sobre Herman J. Mankiewicz (interpretado por um brilhante Gary Oldman), quase tudo remete para os anos dourados de Hollywood: as imagens a preto e branco, os planos, os longos diálogos, os cortes entre cenas… Mank acompanha a vida tortuosa do argumentista quando este se refugia numa fazenda para escrever Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés, à guarda de uma zelosa secretária (Lily Collins), que procura mantê-lo afastado do álcool. Ao longo do filme, vários flashbacks remetem para encontros com a elite, os barões e as estrelas dos estúdios de Hollywood dos anos 30.
Realizado por David Fincher, o filme procura, de certa forma, acertar contas com a verdade, no que diz respeito à relação de amizade de Mankiewicz com o milionário William Randolph Hearst e a atriz Marion Davies – que terão inspirado as personagens de Citizen Kane –, ou quanto aos créditos pela autoria do argumento, partilhados com Orson Welles. Paralelamente, aborda o contexto político no pós-Grande Depressão e a propagação de notícias falsas pelos estúdios de cinema. Netflix
3. Um Amigo Extraordinário, TV Cine Top
Dezanove anos depois de ter ganho dois Oscars consecutivos (Filadélfia e Forrest Gump), Tom Hanks voltou a entrar na galeria dos nomeados com Um Amigo Extraordinário, drama biográfico realizado por Marielle Heller (Memórias de Uma Falsificadora Literária), que acabou por não se estrear nas salas de cinema em Portugal. Baseado em acontecimentos reais, o filme foca-se na história de amizade entre Fred Rogers (Tom Hanks), figura da televisão norte-americana na década de 1960 – criador de Mister Rogers’ Neighborhood, um programa infantil muito popular –, e o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys).
Em Um Amigo Extraordinário, recria-se a famosa abertura do programa original, quando Rogers cumprimenta os espectadores, calça os ténis e apresenta o amigo Lloyd. Nesta produção, foi utilizado o mesmo cenário da cidade-brinquedo e a iluminação do antigo estúdio. A inspiração para o argumento vem de um artigo da revista Esquire, publicado em 1998. Nele, o jornalista, a quem foi pedido um perfil de Mr. Rogers, acaba por ultrapassar o ceticismo inicial e confessar-se contagiado pela onda positiva de um homem genuinamente bom. Uma amizade improvável, com a empatia a levar a melhor sobre o cinismo. Estreou 18 dez, sex 21h30 > TVCine Top
4. Let Them All Talk, HBO
No último ano, o público acompanhou Meryl Streep em personagens tão diversas como uma tia velha mesquinha (Mulherzinhas), uma mãe à procura de justiça (na série Big Little Lies) e uma estrela da Broadway, em declínio (The Prom). Agora, em Let Them All Talk, a atriz assume o papel de uma romancista a lutar contra o bloqueio da escrita.
Trata-se do primeiro projeto de Steven Soderbergh como realizador e produtor para a HBO. O cineasta continua a dar cartas no streaming. Depois de lançar filmes como O Céu é o Limite, The Laundromat ou Contágio, na Netflix, Soderbergh estreia também esta comédia fora das salas de cinema (o mesmo fez Alfonso Cuarón, com Roma). O filme, escrito por Deborah Eisenberg, precisava de um guião. Este foi sendo criado pelos atores, ao longo das filmagens, a partir de algumas cenas e situações apresentadas pelo realizador que lhes deu liberdade para improvisar.
A narrativa segue a história de uma escritora famosa (Meryl Streep) que, durante duas semanas, embarca num cruzeiro, no Queen Mary II, com duas velhas amigas (Candice Bergen e Dianne Wiest), para se divertir e curar as mágoas do passado. A elas, juntam-se o sobrinho (Lucas Hedge) e a agente literária (Gemma Chan) que está desesperada por saber novidades do próximo romance. Um filme divertido, delicioso. HBO
5. O Céu da Meia-Noite, Netflix
Aos 59 anos, George Clooney estreia-se como cineasta e ator para a Netflix, com O Céu da Meia-Noite – e a sua nona realização poderá estar a caminho dos Oscars, em várias categorias, segundo a Imprensa internacional. O filme foi gravado ainda sem o clima de pandemia, mas a história apresenta um cientista a viver num mundo pós-apocalíptico. George Clooney escolheu a obra Good Morning, Midnight (2016), de Lily Brooks-Dalton, para Mark L. Smith (The Revenant) adaptar o argumento. No Ártico, o investigador Augustine (Clooney), solitário e gravemente doente, tenta avisar uma equipa de astronautas do perigo que correm se voltarem à Terra, após uma catástrofe. Muito mais do que ficção científica, uma corrida contra o tempo, com Caoilinn Springall, Felicity Jones, David Oyelowo, Kyle Chandler. Netflix
6. The Prom, Netflix
Realizado por Ryan Murphy (séries Glee, Hollywood e American Horror Story), o novo filme musical da Netflix é uma adaptação de The Prom, espetáculo da Broadway nomeado para sete Tony Awards, e conta com um elenco de luxo. Meryl Streep (vencedora de três Oscars) é Dee Dee Allen, e James Corden (The Late Late Show) é Barry Glickman, dois atores de Nova Iorque a braços com um desastroso espetáculo, e a quem a história de uma adolescente do Indiana chama a atenção. Trata-se de Emma Nolan (a estreante Jo Ellen Pellman), que vê negada a sua pretensão de levar a namorada, como par, ao baile de formatura. O caso chega às redes sociais e os atores fazem-se à estrada, com Angie (Nicole Kidman) e Trent (Andrew Rannells), para tentar relançar as carreiras e ajudar a adolescente. Há momentos de grande emoção, mágicos mesmo, muitas cenas de dança e música, além de figurinos bem teatrais. Netflix
7. Lamento de Uma América em Ruínas, Netflix
Numa América branca profunda, a braços com a crise económica e industrial, algures entre os estados de Kentucky e de Ohio, decorre a ação deste drama familiar, narrado por J.D. Vance (interpretado por Owen Asztalos e, já adulto, por Gabriel Basso). Acompanhamos o protagonista na viragem para o século XXI, de adolescente perdido nos estudos, sujeito às más influências, a jovem decidido a lutar por um futuro melhor, já como estudante de Direito na Universidade de Yale, sem esquecer as suas origens.
As atrizes Glenn Close e Amy Adams, eternas candidatas ao Oscar (juntas acumulam 13 nomeações… e já se aposta nos seus nomes para a próxima cerimónia), desempenham os papéis de avó e de mãe de J.D., uma relação conflituosa, marcada pela pobreza, pela maternidade precoce de ambas e pelos vícios que correm no sangue. Apesar das dificuldades, “a família é a única coisa que importa”, sentencia a matriarca.
O filme é a adaptação do bestseller autobiográfico de J.D. Vance, Hillbilly Elegy: A Memoir of a Family and a Culture in Crisis, lançado em 2017 e publicado, em Portugal, pela Dom Quixote, com o título Lamento de Uma América em Ruínas. Não se pode dizer que seja o melhor trabalho de Ron Howard (realizador de Cocoon, Uma Mente Brilhante, Apolo 13, entre outros), mas muitos se identificarão com este exemplo de superação, de conquista do sonho americano e de glorificação dos valores da família. Netflix
Em português: Dois grandes elencos em duas séries que relembram o País dos anos 80 e 90
A Generala, Opto (SIC)
Foi a partir da história real de Maria Teresinha Gomes que Patrícia Muller e Vera Sacramento escreveram o argumento desta série de seis episódios, na Opto, nova plataforma de streaming da SIC. Esta mulher passou 18 anos da sua vida como general Tito Aníbal da Paixão Gomes, mas, nos anos 1990, foi desmascarada. Aplausos para Carolina Carvalho e Soraia Chaves na interpretação de Maria Luísa Paiva Monteiro. Um episódio por semana, na Opto/SIC
Crónica dos Bons Malandros, RTP1
Há 36 anos, o livro de Mário Zambujal já tinha dado um filme assinado por Fernando Lopes. Agora é Jorge Paixão da Costa quem realiza a nova série de comédia com um bando de ladrões muito disfuncional. É na Lisboa dos anos 80, do século XX, que sete larápios se juntam para traçar o plano megalómano de assaltar o Museu Gulbenkian. Com Adriano Carvalho, Joana Pais de Brito, José Raposo, Manuel Marques, Marco Delgado, Maria João Bastos e Rui Unas. Estreou a 2 dez, qua 21h > RTP1
