Na Lisboa dos anos 80 do século XX, sete larápios juntam-se para traçar o plano megalómano de assaltar o Museu Gulbenkian. Na verdade, eles andam sempre juntos para tudo e para nada, não têm propriamente uma ocupação. Quando lhes chega às mãos a encomenda para roubarem 15 joias de René Lalique (a Fundação Gulbenkian tem atualmente uma exposição do artista francês) – a que insistem chamar de Lilaque (!) –, percebem que talvez estejam a dar um passo maior do que a perna. Mas este é um trabalho que só aparece uma vez na vida e querem que seja o roubo do século, para dele se gabarem quando forem velhinhos.
O plano é simples: almoçam no restaurante Pabe (um clássico) e depois, em plena luz do dia, vão até à bilheteira e entram no museu. Com um dos ladrões sentado numa cadeira de rodas (que esconde um enxame de abelhas), e já dentro da sala de exposições, soltam os insetos para afastarem turistas e seguranças, conseguindo assim roubar as peças. Até parece simples, mas com tantos disparates pelo meio é certo que a coisa não vai correr bem. Há qualquer coisa de Ocean’s Eleven, mas mais popular, e de La Casa de Papel, sem o dramatismo de ser um assalto a um banco, mas com a união de uma quadrilha disfuncional que se mete nesta aventura sem pensar nas consequências.

A série Crónica dos Bons Malandros, que agora se estreia nos serões de quarta-feira na RTP1, começou a ser trabalhada há dois anos, quando o filho mais novo de Jorge Paixão da Costa, 66 anos, foi ter com ele, “com a inocência dos mais novos” lembra o realizador, e lhe falou do livro que andava a ler e que dava um grande filme. O pai explicou-lhe que o filme já tinha sido feito por Fernando Lopes, em 1984, e que era amigo há mais de 30 anos de Mário Zambujal, autor da obra escrita e publicada em 1980. “Então, porque não uma série?”.
Paixão da Costa ficou a matutar no assunto, à procura de um conceito e encontrou-o. Ora, se os larápios são sete, podemos explorar cada personagem num episódio. “Percebi que esta é uma história transversal a todas as idades”, refere. Sem querer aproximar-se do registo do filme, contou com Mário Botequilha para escrever o argumento, e com Mário Zambujal que, aos 84 anos, fez questão de estar por perto – aliás, algumas dicas dadas sobre cada uma das personagens só ele é que sabia.
Ao projeto, juntaram-se as produtoras Ukbar Filmes e Moonshot Pictures e as gravações terminaram entre julho e agosto passados. Sobre o elenco, composto por caras de séries, telenovelas e programas de humor, bem conhecidas do grande público, Jorge Paixão da Costa diz: “Todos eles têm o seu público e juntos fazem um corpo só.”

Neste “circo da malandragem”, veremos sete pessoas dentro de um mini cor-de-rosa, carros da polícia antigos, walkman e acessórios de moda datados, penteados e guarda-roupa daquele tempo. São uns fora-da-lei fraquinhos, com tentações de roubar peças de roupa do estendal ou a precisarem de ser resgatados da casa que estão a assaltar.
Maria João Bastos é Marlene, a Voadora, a mais inteligente de todos, influencia o líder e é personificação da mulher dos anos 80. Marco Delgado é Renato, o Pacífico, um líder que odeia armas e não se enerva com facilidade. Adriano Carvalho é Flávio, o Doutor, o mais eloquente, sabe de tudo um pouco. Manuel Marques é Arnaldo, o Figurante, atrapalha mais do que ajuda e não prima pela inteligência. Joana Pais de Brito é Adelaide, a Magrinha, uma sonhadora com o príncipe encantado que se guia pelos signos. José Raposo é Pedro, o Justiceiro, desajeitado mas bondoso. E, finalmente, Rui Unas é Silvino, o Bitoque, o verdadeiro chico-esperto, o malandro que consegue enganar os outros malandros, viciado no bingo e em… bitoques. Uma deliciosa coleção de cromos.
Crónica dos Bons Malandros > Estreia 2 dez, qua 21h > RTP1