Depois de uma aterragem digna de um espião internacional e de uma entrada em palco não menos retumbante, Jerry Seinfeld começa aquilo que, palavras suas, chama de matar o tempo. No especial 23 Hours to Kill, ao longo de uma hora, satiriza o que mais ama e detesta nos hábitos quotidianos dos americanos. Da perene insatisfação com a vida ao engodo que podem representar os restaurantes demasiado elegantes, até ao modo doentio como dependem dos telemóveis. Não deixa de salientar que as coisas boas e más andam geralmente de mãos dadas, ironizando: “Deixamos cair um gelado no chão e o que dizemos? Fantástico!” Seinfeld confessa-se um amante do kitsch, da simplicidade à qual convencionamos chamar guilty pleasures. Também a frustração de viver num mundo dominado pela tecnologia, em que o envio de mensagens e emails parece uma solução mais agradável e recorrente em relação a uma conversa presencial, dá aso a piadas.
Seinfeld arranca gargalhadas ao público do Beacon Theatre, em Nova Iorque, quando explica como os humanos gostam de concentrar-se em grandes cidades, a fim de poderem julgar e criticar os comportamentos e hábitos uns dos outros. Comentários, pensamentos e opiniões pessoais são então alvo de críticas por parte do comediante, que demonstra como o gosto que temos em ouvir-nos pode levar, tantas vezes, a monólogos absurdos.
Aos 66 anos, Jerry Seinfeld satiriza os privilégios de envelhecer, enfatizando a naturalidade com que pode expressar a própria opinião, deixando de lado os filtros e recusando-se a fazer o que não lhe apetece. E este 23 Hours to Kill, é, de certa maneira, a prova disso.