Invadida por escritores, leitores, editores, críticos e agentes literários, a Póvoa de Varzim fica contagiada pelo espírito literário que reina nas Correntes d’Escritas. A 23ª edição do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica conta com mais de 60 convidados, vindos de Portugal, Espanha, Moçambique, Angola, Brasil e Argentina – alguns, como Paulina Chiziane (Prémio Camões 2021) e Onésimo Teotónio Almeida, continuam a participar à distância, por videoconferência, mas o regime presencial é a regra.
A música embalará as conversas que decorrem em mesas com nomes sugestivos, como Verdes Anos, A mi manera, Sodade, Pedra Filosofal ou Meninos do Huambo, a recordar melodias marcantes. “Porque também se fazem de literatura as canções, a música”, sublinha a organização. Para quem não consiga garantir uns dos lugares marcados da plateia, pode assistir à transmissão em streaming garantida no site da câmara municipal.
Luísa Costa Gomes foi a vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, com o livro de contos Afastar-se
Este ano, o Prémio Literário Casino da Póvoa (o maior galardão atribuído, no valor de 20 mil euros), irá distinguir prosa e foram selecionadas 14 obras finalistas. Os concorrentes são Frederico Pereira, José Gardeazabal, Luísa Costa Gomes, José Luís Peixoto, Luís Landero, Patrícia Portela, João de Melo, Djaimilia Pereira de Almeida, Paulo Scott, Mia Couto, Ana Margarida de Carvalho, Gonçalo M. Tavares, Almudena Grandes e Cláudia Andrade. O vencedor será conhecido na sessão de abertura, nesta quarta, 23, ocasião aproveitada para lançar a revista oficial do encontro, que será dedicada ao escritor brasileiro Rubem Fonseca (1925-2020). Para este dia, foi ainda convidado o filósofo e professor Viriato Soromenho Marques que dará a conferência de abertura, com o título Para Onde Vamos? O futuro entre Distopia e Utopia.
Todos os anos, as Correntes marcam o calendário editorial, com vários lançamentos de livros agendados para fevereiro. É o caso de A Última Curva do Caminho, de Manuel Jorge Marmelo, Beijos, de Manuel Vilas, Devocionário e Diário de Link, ambos de Francisco Duarte Mangas, ou Mortal e Rosa, de Francisco Umbral, entre muitos outros. Além de novas obras, irá falar-se de reedições, como é o caso de Morte no Estádio, de Francisco José Viegas, a marcar o 30º aniversário do inspetor Jaime Ramos.
Outras artes foram convocadas para o encontro. Valter Hugo Mãe, além de marcar presença nas conversas entre escritores, dará a conhecer o seu trabalho como pintor, na exposição Parece um pássaro, mas é um pirilampo ou um louva-a-deus, patente na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto. Já no Centro Coordenador de Transportes, até final de março, poderá ver-se a instalação da peça artística e de artesanato que recria 12 camisolas poveiras a partir do livro As Penélopes. Um projeto artístico pluridisciplinar, que cruza a mestria das artesãs com a escrita de autoras, escritoras e poetas contemporâneas. Destaque ainda para as mostras de Silvestre Pestana, no Cine-Teatro Garrett, e de Helder de Carvalho, na Galeria d’Arte Ortopóvoa.
As Correntes também se juntam às comemorações do centenário de nascimento de José Saramago, com a exibição nesta quinta, 24, do filme O Ano da Morte de Ricardo Reis, realizado por João Botelho, a pré-apresentação do livro Saramago – Os seus nomes, um álbum biográfico da autoria de Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel, e uma extensão a Lisboa, com a exposição de fotografias de Daniel Mordzinski, Navegantes de la balsa de piedra. Retratos de escritores iberoamericanos y lusófonos en el centenario de José Saramago, inaugurada no dia 28, segunda, no Instituto Cervantes. Nesta ocasião decorrerá a última mesa, com o nome da música Os Argonautas, que juntará Elena Medel, Manuel Vilas, Ondjaki e João Morales. Porque “navegar é preciso”, como cantava Caetano Veloso, citando Fernando Pessoa, em jeito de fado.
Correntes d’Escritas > Cine-Teatro Garrett > 23-26 fev, qua-sáb > grátis (levantamento do bilhete obrigatório, duas horas antes do início das sessões) > cm-pvarzim.pt