Nove meses depois de iniciadas as obras, Álvaro Siza conduziu uma visita para mostrar a sua intervenção no restauro e adaptação da Casa de Serralves. Pela primeira vez, com todas as salas acessíveis e desocupadas, recuperadas ao pormenor, o edifício Art Déco (1931-1944) parece ter ganho uma outra dimensão, ainda mais cenográfica.
Destinada a criar as condições técnicas necessárias para acolher mostras temporárias, a obra permitiu ocultar não só todos os equipamentos, como melhorar os acessos e as condições de circulação para pessoas de mobilidade reduzida. Sem alterar em nada a arquitetura original do edifício de dois pisos, Siza Vieira transformou, por exemplo, uma antiga copa numa casa de banho para pessoas com deficiência, e adaptou o antigo elevador para permitir a entrada de uma cadeira de rodas.
Todas as estruturas e revestimentos foram renovados. Pedro Viegas, o engenheiro que colaborou com Álvaro Siza e guiou parte da visita, salienta que “foi uma obra de conservação e restauro” para apresentar “uma casa antiga nova”. Além de se ter restaurado ao pormenor o lindíssimo chão de madeira, os candeeiros, os puxadores, também as janelas viram a caixilharia, vidros e estores originais reabilitados. Com esta intervenção, a Casa de Serralves poderá receber as obras da coleção Miró, propriedade do Estado, à guarda da Câmara Municipal do Porto e em depósito na Fundação de Serralves, “mantendo a abertura” com o exterior, como referiu Álvaro Siza.
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A iluminação está mais eficiente, mantendo-se os candeeiros de parede. Já os radiadores, por força da introdução de um moderno sistema de climatização, apenas visível numas estreitas fendas no teto e na claraboia lateral, ficaram reduzidos a uma presença meramente decorativa. A intervenção abrangeu também a cobertura, onde os telhados foram refeitos. Há também uma série de particularidades neste icónico edifício, exemplo da arquitetura Art Déco em Portugal, que se podem descobrir nas áreas utilizadas para funções administrativas.
Concluída que está a primeira fase de restauro e adaptação, estuda-se agora como será o futuro acolhimento de exposições, com a certeza que este procurará não interferir na leitura do edifício, garantindo que este “exemplar único da cidade não será uma casa Miró”, defendeu Rui Moreira, presidente da autarquia do Porto. “Foi importante mostrar a coleção numa primeira fase”, mas deve-se “garantir a sua itinerância internacional” e avançar com “a reinterpretação de Miró, nomeadamente, com outros artistas plásticos portugueses”, sublinhou.
Na apresentação da casa, foi assinado um protocolo de doação à Fundação de Serralves de uma centena de desenhos e sete mil fotografias que documentam projetos e construções de Álvaro Siza. A este, somou-se o depósito de 50 novas maquetes e 128 esquissos originais de projetos desenvolvidos na Ásia, em conjunto com o arquiteto Carlos Castanheira.
Casa de Serralves > Fundação de Serralves, R. Dom João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €10