1. Places
A manhã fria de janeiro pinta as ruas de Alvalade com tons pardos de cinzento, mas há um edifício cuja fachada de metal reflete o brilho da chuva. O Places, cowork sediado, desde junho de 2019, nas instalações do antigo cinema Quarteto, trouxe uma nova luz à Rua Flores de Lima. Na zona da entrada, já há várias pessoas a fazerem chamadas nas call rooms ou nas phone booths, onde até 2007 se compravam bilhetes e se deixavam casacos no bengaleiro. As salas de cinema foram transformadas em open spaces e salas de reuniões, a copa ocupa o antigo bar e há um novo rooftop.
Alguns dos residentes são freelancers, mas a maioria compõe-se de pequenas empresas que ocupam salas inteiras para desenvolverem negócios tecnológicos, de marketing digital, comunicação e consultoria financeira – tal como acontece, de resto, noutros coworks. Há também a possibilidade de vir trabalhar apenas um dia, com acesso ao wi-fi e a todas as áreas de lounge.
O Places Cowork tem parcerias com uma creche, ginásio e serviço de assistente pessoal
Os fundadores, André Cardoso e Mariana Gil, quiseram criar um local onde os residentes se sentissem acompanhados além do trabalho. “Acreditamos que esse apoio que damos às pessoas faz a diferença”, explica André. Através de um serviço de assistência pessoal, parcerias com uma creche e um ginásio, e ainda a possibilidade de trazer filhos ou animais de estimação para o trabalho, o Places fomenta um ambiente familiar e de comunidade. Em torno da mesa de matraquilhos, à frente de um jogo de arcade, durante o pequeno-almoço oferecido às quartas-feiras, os residentes convivem e trocam conhecimentos. A partir da primavera, querem ainda promover, no rooftop, uma aula mensal de ioga e outra com um personal trainer.
Places > R. Flores de Lima, 16, Lisboa > T 91 331 7935 > desde €230 por secretária > até 130 trabalhadores
2. Beco
Do lado de lá da cidade, entre o Beco do Rosendo e a Rua da Madalena, em plena Baixa Pombalina, uma porta aberta deixa entrever um sofá e duas bicicletas, estacionadas contra uma parede de tijolos brancos. Fotografias, cartazes, plantas e alçados, pendurados, avisam-nos que estamos a entrar em território de artistas. Aberto desde maio de 2019, o Beco nasceu da vontade de os arquitetos Tiago Sá Gomes e Gonçalo Caldeira criarem um espaço de trabalho e de partilha para indústrias criativas de secretária (arquitetos, designers, fotógrafos, video makers), ligadas a projetos sustentáveis.
A ideia de uma comunidade-família é aqui levada mais além pelo facto de o Beco estar integrado no Same-Same, o primeiro projeto de coliving 100% português, no qual os hóspedes têm a possibilidade de viver, trabalhar e entrar na cultura portuguesa. Nas palavras de Gonçalo, “além dos residentes fixos, temos lugares para quem quer trabalhar aqui durante apenas uma temporada ou para os viajantes que ficam nos quartos e apartamentos”.
O Beco tem ainda um projeto de coliving associado
Mas atenção, o tempo mínimo de permanência, seja enquanto trabalhador, seja enquanto hóspede, é de um mês, para que se crie uma relação mais íntima e de confiança entre residentes. O espaço onde trabalham cinco pequenas empresas, habitantes do coliving e outros freelancers é constituído por um open space, uma copa e uma sala de reuniões. Ainda neste ano terá um bar de cocktails e de pratos confecionados com produtos sazonais de pequenos produtores locais. Ao final da tarde ou ao fim de semana, há jantares, festas e projeções de filmes à porta fechada para os residentes do Beco e do coliving, mas também exposições, concertos, tertúlias e ciclos de cinema abertos ao público.
Beco > R. da Madalena, 214, Lisboa > T. 91 331 7935 > €180 por lugar > até 25 trabalhadores
3. Big Idea
A necessidade de convivência de diversas artes no mesmo local foi precisamente o motor para a criação do Big Idea. O cowork, idealizado pela agência de produção de espetáculos PMP Eventos, nasceu, em agosto passado, num armazém com mais de 600 metros quadrados, disponibilizando 14 escritórios, uma sala de reuniões, uma biblioteca comunitária, um estúdio fotográfico e outro de vídeo. Os residentes são maioritariamente pequenas empresas, mas também freelancers das áreas da fotografia, design, marketing digital, programação, catering, agenciamento de talentos e, até, uma escola de novo circo, com aulas de acrobacia aérea, acrobalance e ioga suspenso, dirigida por Jocka, artista que já passou pelo Cirque du Soleil.
O Big Idea oferece aulas de Novo Circo com Jocka, um artista que já passou pelo Cirque du Soleil.
“Quisemos criar uma grande comunidade criativa sob um denominador comum, potenciando sinergias em ambas as direções”, explica o proprietário Paulo Magalhães. E acrescenta: “A palavra-chave é criatividade e esta funciona como solução para muitas coisas. Procuramos desenvolvê-la ao máximo.” A partilha de conhecimentos e serviços mostra-se muito importante para o crescimento das empresas residentes. “O polo criativo que temos aqui é uma mais-valia absoluta”, conta Gonçalo Andrade Pires, da empresa de video mapping VisionOnset, frisando ainda que já começou a estabelecer parcerias com os escritórios do lado.
O crescimento da comunidade passa também por uma abertura ao exterior, já que os estúdios, a sala de reuniões ou a escola de circo podem ser alugados por quem não trabalha no cowork, como já aconteceu com os músicos Diogo Piçarra, Mastiksoul e o youtuber Wuant. O ponto nevrálgico da ligação com os vizinhos do bairro de Moscavide acaba por ser a escola de circo, através de um espetáculo mensal de cabaret e das aulas diárias para adultos ou semanais para pais e filhos.
Big Idea > Estrada de Moscavide, 60A, Lisboa > T. 91 616 4445 > desde €300 por escritório > 14 escritórios
4. Wood
As sessões de ioga que o Wood oferece aos seus residentes (duas gratuitas por mês) não estão abertas à restante comunidade. Mas há muito mais para os vizinhos usufruírem, apenas pelo facto de este cowork se ter mudado para uma rua a dois passos do Marquês de Pombal. O edifício estende-se por oito pisos, num total de dois mil metros quadrados, e foi recuperado pelo atelier Anahory Almeida, dando uma sensação de unidade à medida que se percorrem as diferentes áreas. No lounge, por exemplo, encontra-se sempre à mão fruta fresca, chás, cafés e águas aromatizadas, mas também loiça para ser usada por quem traz comida de casa. Nesta área, existem secretárias não fixas para ocupar e uma grande sala de reuniões que pode ser alugada por pessoas que não trabalham aqui.
Há outros quatro espaços deste tipo e ainda 12 meeting boxes para encontros mais informais e sete phone booths à porta fechada. No Wood, coexistem tanto pequenas empresas de duas pessoas como outras maiores que ocupam pisos inteiros, embora se mantenha a arquitetura original, bastante compartimentada. No entanto, no primeiro andar, pode alugar apenas uma secretária e um cacifo por um mínimo de três meses. “Queremos um edifício com uma comunidade mais fixa, que se conheça e que crie familiaridade”, explica Aimara Geissler, diretora do Wood.
O Wood oferece duas sessões de ioga gratuitas, por mês, aos residentes.
Inês Areias e Cristina Pinto são as duas únicas funcionárias da Good Success, dedicada à gestão de condomínios. Consideram-se as cobaias deste cowork, pois escolheram-no para seu escritório logo em setembro, quando abriu. “A localização foi um dos fatores que nos chamaram para aqui, pois temos muitos clientes nas redondezas. Mas também achámos interessante o convívio entre as empresas e os eventos, a que vamos quando estamos disponíveis”, conta Cristina, sentada no pequeno espaço que lhes serve de sede, a troco de 900 euros por mês, com janelas rasgadas para os restantes ocupantes do Wood.
As atividades a que ela se refere estão sempre a ser atualizadas na aplicação feita para os membros, mas há coisas que nunca falham: o pequeno-almoço, às segundas-feiras, e a happy hour, às quintas, fomentam a interação entre os residentes. As aulas de ioga (de manhã, à hora de almoço ou ao final da tarde), dadas por Carolina Peral, do estúdio Siendo, também já têm alguns seguidores e ajudam a manter os níveis de ansiedade mais baixos. Quando o beauty room estiver pronto, ainda haverá massagens, manicure, consultas de osteopatia, barbeiro e cabeleireiro à la carte – tudo pago na aplicação. E depois, há encontros organizados e abertos à comunidade, que não têm uma periodicidade estabelecida. “Não fazemos curadoria dos clientes, pois achamos que a nossa proposta já os filtra naturalmente: valorizamos o conforto, a despreocupação e oferecemos uma boa morada”, assegura Aimara.
Wood > R. Mouzinho da Silveira, 32, Lisboa > desde €250 por secretária > 220 trabalhadores
5. Heden – Santa Apolónia
Por outro lado, no novo Heden de Santa Apolónia procura-se perceber se as empresas que querem vir trabalhar para ali partilham dos valores em que este negócio assenta, desde 2018. Mas, já se sabe, é inevitável que as tecnológicas sejam as primeiras da lista. Neste cowork todo envidraçado, com vista para o Tejo, ou para as varandas dos cruzeiros, conforme o movimento do rio, a consciência ambiental é quem mais ordena, à semelhança do que já se passa nos outros três Heden (Graça, Chiado e Intendente).
“Procuramos estar em locais acessíveis por meio de transportes públicos, porque isso é o mais sustentável que podemos oferecer”, justifica László Varga, um dos fundadores. De resto, é ter preocupações com os materiais utilizados, recorrer a painéis fotovoltaicos para aproveitar a energia solar, fazer descontos de 17,50% a mulheres, por ser essa a disparidade salarial em relação aos homens, ou praticar preços mais simpáticos para os pequenos empresários portugueses, pois querem manter a cidade apetecível aos locais. Manuel Bastos, outro dos sócios, explica porque, no arranque deste Heden, ele está já praticamente tomado por empresas, apesar de, em breve, disponibilizarem uma fila de secretárias para alugar avulso: “Não podemos ficar presos aos freelancers, pois assim não teríamos negócio.”
No Heden há um desconto de 17,50% para mulheres, por ser essa a disparidade salarial em relação aos homens
Este cowork, como a maioria dos seus concorrentes, está aberto 24 horas por dia (o acesso é feito através de um código). As despesas de manutenção estão incluídas no preço e também há chá, café e granola para todos. Como dispõem de um auditório com capacidade para 120 pessoas, esperam alugá-lo muitas vezes para todo o tipo de iniciativas. E então as portas estarão abertas a quem quiser assistir a esta dinâmica de trabalho, em que as pessoas preferem ocupar as zonas comuns, com os seus portáteis, aproveitando a luminosidade inspiradora da beira-rio.
Heden – Santa Apolónia > Doca Jardim do Tabaco, Terminal de Cruzeiros de Lisboa, Edifício NE, 1º Piso > desde €200 por secretária > até 120 trabalhadores
6. Founders Founders
O prédio do Founders Founders, em plena Rua Augusta, já está tomado em 60 por cento, apesar de ainda estar em soft opening. A ideia desta espécie de cowork nasceu no Porto e agora foi importada para a capital – consiste numa rede informal de fundadores de startups já com algum lastro, que recomendam outros fundadores para fazerem parte do clube, convidando-os para trabalharem debaixo do mesmo teto. “Trata-se de uma ‘desincubadora’ que acolhe empresas com negócios mais maduros e que já podem viver sozinhas. No entanto, é imprescindível a presença do fundador e o apoio entre os membros. Há de haver sempre alguém com uma experiência idêntica, por isso tem de existir partilha e abertura para se aprender”, conta Nuno Brito Jorge, que trouxe a ideia para Lisboa.
A Founders Founders encontra-se no coração da baixa pombalina
A Prodsmart, que desenvolve um software para a indústria, saiu da vizinha Startup Lisboa para ocupar 90 metros quadrados deste prédio. “A equipa é jovem e quase ninguém tem carro, por isso teríamos de continuar num sítio central para mantermos a qualidade de vida. Além disso, fazia todo o sentido estarmos integrados numa cultura deste género”, justifica Érica Rodrigues, responsável pela comunicação, poucos dias depois da mudança. Por enquanto, os ocupantes do Founders Founders ainda se mantêm fechados nos seus casulos, à exceção da hora do almoço em que invadem a copa ou o terraço com uma vista de 360 graus sobre a cidade. A interação entre fundadores aguarda pelo arranque dos quatro encontros mensais pensados (Founders are Happy, Scale me Up, Tech Tech Talks e Let’s Go Again). João Cardoso, gestor do edifício, revela que serão todos “abertos ao ecossistema exterior”, numa fantástica sala que chamam “dos Maias”.
Founders Founders > R. de São Nicolau, 73, Lisboa > €36 por m2 > até 150 trabalhadores
7. The House of Hopes and Dreams
Na The House of Hopes and Dreams, o glamour não está na sumptuosidade, mas na manutenção do seu ambiente industrial e decadente. Gonçalo Castel-Branco descobriu esta antiga serralharia na Ajuda quando andava à procura de um lugar para trabalhar com a sua pequena equipa. “Precisava de 120 metros quadrados e, de repente, fiquei com 700. Tive de pensar numa forma de ocupar a restante área.” Manteve, então, a estrutura de um pé-direito altíssimo, alguns escritos na parede mal pintada e um chão tosco. E logo pensou em rentabilizar a coisa através de um cowork.
Mas como, se já trabalhara em alguns e se detestara? Gonçalo até concorda com o princípio da partilha inerente a esses novos espaços de trabalho, mas sabe que, na realidade, as pessoas estão na sua, de auscultadores nos ouvidos para não serem incomodadas. “Isso acontece porque não existe curadoria. Aqui, fazemos questão de tê-la, além de não cobrarmos pelo espaço. Em troca, as pessoas têm de estar 100% disponíveis para ajudar. Na realidade, trata-se de um anticowork, uma espécie de abrigo criativo, para dar um empurrão a quem precisa”, resume o mentor da ideia que nasceu em agosto passado.
Apesar de se ter direcionado para a comunidade artística de uma forma geral, na verdade este cowork está muito virado para os cozinheiros, pois o local está equipado com uma cozinha aberta, perfeita para ser tubo de ensaio de experiências arrojadas. O chefe residente Rui Santos faz as honras da casa no lunch club – duas vezes por semana prepara 30 refeições e anuncia-as num grupo de WhatsApp. É essa área que também é alugada ao exterior para se rentabilizar o local.
O The House of Hopes and Dreams define-se como um anti cowork, um abrigo criativo, para dar um empurrão a quem precisa
“Aqui gera-se capital de boa vontade, num ambiente muito informal”, garante Gonçalo. É comum encontrar-se um pintor a dar cor às suas telas, ao mesmo tempo que alguém se senta ao piano e é escutado por outro artista que se aconchega num dos sofás desiguais. Na zona de cowork propriamente dita, as cadeiras são desirmanadas e as mesas feitas com portas antigas. É aqui que está o arquiteto Vasco Machado Leite a tratar da gestão das cerca de 20 candidaturas, que mudam de três em três meses – o tempo de se perceber se o negócio tem pernas para prosseguir caminho. “Qualquer residente faz parte deste projeto; são eles que dão vida a isto. Precisamos que sejam complementares e não concorrentes, por isso passamos 15 dias a avaliar se fazem sentido aqui.” E já se sabe, os phones estão proibidos.
The House of Hopes and Dreams > R. Alexandre de Sá Pinto, 109, Lisboa > T 936 661 440 > gratuito > até 20 trabalhadores
Trabalhar onde menos se espera
Coworks em restaurantes, supermercados e até bancos
8. Monte Mar Lisboa: Com vista para o Tejo
Às quartas-feiras, entre as 9h e as 13h, pode responder a emails, fazer telefonemas ou reunir com clientes, no primeiro andar do restaurante Monte Mar Lisboa. O custo de trabalhar com vista para o Tejo é de €15 (inclui pequeno-almoço), valor que pode ainda ser descontado no almoço, caso decida ficar mais algumas horas. > R. da Cintura do Porto de Lisboa, Armazém 65, Lisboa > T. 21 322 0160 > Coworking Morning qua 9h-13h
9. My Auchan CoWork Space: Não é só fruta e verdura
Quem entra na loja My Auchan da Avenida da República pode não ir às compras. É que, no primeiro andar, há um cowork de livre acesso e gratuito. Os utilizadores podem usufruir de uma longa mesa de trabalho, wi-fi, uma sala para reuniões individuais, outra para chamadas telefónicas, máquinas de comida, copa e uma zona de leitura. O cowork funciona como polo de networking para muitos dos estudantes das escolas e universidades da zona. Av. República, 59, Lisboa > T. 21 045 7810 > seg-dom 8h-21h
10. Work Café Santander: Um café com saldo positivo
Desde março de 2019 que, no balcão do Santander das Amoreiras, além de pagar as contas ou levantar dinheiro, pode beber um café, estudar ou fazer uma reunião. O Work Café, aberto a clientes e a não clientes do banco, junta a filial a uma cafetaria, numa área com mesas de trabalho, gabinetes e salas para reuniões e apresentações. Av. Eng. Duarte Pacheco, 17, Lisboa > T. 21 381 3250 > seg-sex 8h30-17h30
E ainda…
11. Casa do Impacto
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem um cowork dedicado a projetos de impacto social ou ambiental, que respeitem os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Tv. de São Pedro 8, Lisboa > T. 21 324 0870 > seg-sex 9h-18h > a partir de €80 (secretária)
12. Fintech House
O Sitio, a maior rede de cowork em Lisboa, abriu a Fintech House, em parceria com a Portugal Fintech. Fica na Praça da Alegria e é dedicada a startups tecnológicas do setor financeiro. Pç. da Alegria, 22, Lisboa > T. 96 017 9556 > seg-sex 8h-20h > a partir de €190
13. Work Avenida
No prédio ao lado do antigo edifício do Diário de Notícias, abriu um cowork de linhas minimalistas e elegantes. Av. da Liberdade, 262, Lisboa > T. 91 700 1661 > seg-qui, 9h-18h, sex 9h-19h > a partir de €375
14. LACS Anjos
O novo LACS inclui áreas de coworking, estúdios privados, galeria de arte, café lounge bar, uma sala de eventos e um terraço. R. Febo Moniz 27, Lisboa > T. 21 051 4257 > a partir de €45, sem lugar fixo