1.Bairro Alto Hotel
Na história da reabertura do Bairro Alto Hotel, é justo que se fale no modo como o processo foi conduzido – incluindo o realojamento dos idosos que ainda viviam nos edifícios do quarteirão, entretanto “anexados” pelo hotel. E é bom que fique escrito com todas as letras: uma gestão – sensível, responsável e consciente – que deveria servir de exemplo para todos os proprietários do centro histórico de Lisboa. Reabriu no princípio de agosto, com o projeto de arquitetura do Pritzker Eduardo Souto de Moura que, segundo reza a lenda, já fazia do hotel a sua casa lisboeta. O terraço (sim, continua a ser do outro mundo) passou a estar reservado para os hóspedes, mas, em contrapartida, Nuno Mendes largou Londres e o mundo, estabelecendo-se agora por cá. Assume o cargo de diretor criativo de todas as zonas de restauração do Bairro Alto Hotel (o cocktail bar 18.68 só deverá abrir no princípio de 2020) e, no BAHR, numa cozinha à vista de todos, dedica-se a comprovar-nos que a excelência pode (e deve!) estar nas coisas mais simples: os produtos da época, a sustentabilidade, o melhor da comida portuguesa. Pç. Luís de Camões, 2, Lisboa > T. 21 340 8288
2.TBA – Teatro do Bairro Alto
Com o ano a chegar ao último trimestre, Lisboa ganhou um novo palco. Foi em outubro, três anos após ter fechado portas, que o Teatro do Bairro Alto (TBA) reabriu sob a tutela da EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) e a direção artística de Francisco Frazão. Casa do Teatro da Cornucópia nos últimos 41 anos, o TBA procura hoje a modernidade. “Vai ter a particularidade de estar dedicado à prática experimental de artes performativas. Isso vai distingui-lo do resto das instituições da cidade”, disse, na altura, Francisco Frazão à VISÃO. O teatro, que se apresenta como inclusivo, verde e acessível, tem sessões em língua gestual portuguesa e, em breve, estará a funcionar um elevador que permitirá o acesso à Sala Principal e à Sala Manuela Porto. Desde a reabertura, a programação conta já com cinco peças, três espetáculos de dança, três concertos e ainda conferências e performances, pautados por um caráter experimental. Teatro do Bairro Alto > R. Tenente Raul Cascais, 1A, Lisboa > T. 21 875 8000 > bilheteira ter-dom 15h-20h
3.Rossio Gastrobar
Num ano em que quase não se ouviu falar em novos terraços, o Rossio Gastrobar veio alegrar os finais de tarde, em Lisboa. Primeiro, pela vista que se tem do topo deste sétimo andar do hotel Altis Avenida: da Baixa ao Chiado, do Castelo à Graça. Em segundo lugar, pela ementa descontraída e de partilha, criada pelos chefes João Rodrigues (à frente do Feitoria, no Altis Belém Hotel & Spa) e João Correia. Entre as várias propostas, há croquetes de rabo de boi e molho de mostarda caseira, hambúrguer de carne maturada, queijo, cornichons e agrião, e carabineiro do Algarve e arroz carolino de salicórnia queimada. Para iniciar, acompanhar ou finalizar a refeição, experimente-se um dos cocktails da carta, da qual se destaca o Cane, com cachaça, soda de maçã e especiarias, açúcar de bourbon e bitter de chocolate. Altis Avenida > R. 1º Dezembro, 120, Lisboa > T. 21 044 00 18 > ter-sáb 17h-1h
4.Talho da Esquina
Se, por um lado, se ouvem apelos constantes para que deixemos a carne de lado (ou, pelo menos, parte dela), por outro, este foi o ano do renascimento dos restaurantes dedicados a este pecado gastronómico, mas em que só se comem exemplares de qualidade e com diferentes graus de maturação. O chefe Vítor Sobral foi um dos que abriram o seu talho, que de talho só tem o nome. Na verdade, trata-se de uma casa em que se escolhem os cortes, todos nacionais, sem problemas de consciência. “As peças estão visíveis, com o seu bilhete de identidade pendurado”, garante este grande defensor de carne de qualidade. Da lista constam opções bovinas, caprinas, suínas e ainda de aves. Só a caça fica de fora, porque não calha bem na grelha, que é como tudo se faz aqui. Apesar desta assumida vertente carnívora, e porque Vítor Sobral não é alheio ao movimento pró-vegetarianismo, criou dois pratos para quem foge dos animais à mesa, e muitas das entradas servem bem esse propósito, como os deliciosos cogumelos gratinados com puré de beringela. As carnes, porque afinal é disso que se trata, dividem-se em fresca e maturada, com os preços a acompanharem os meses de conservação. R. Correia Garção, Lisboa > T. 21 390 0997 > ter-sáb 12h30-15h30, 19h30-23h30, seg 19h30-23h30
5.Cécile Mestelan
Decorativa ou utilitária, a cerâmica tem vindo a reinventar-se nas mãos de uma nova geração de artistas, que cruza esta arte com novas linguagens em taças, pratos, jarras, entre outras peças. Cécile Mestelan iniciou-se naquilo que se pode chamar Primeira Liga da Cerâmica: uma residência de três meses na Vista Alegre, em Ílhavo. Mudou-se depois para Lisboa, onde tem o seu atelier (o Olho Cerâmica funciona como cowork, com aulas para quem quer aprender o ofício), e, já este ano, abriu uma loja na Calçada da Estrela, onde antes funcionava uma ourivesaria e relojoaria. Nos armários e vitrinas antigas estão agora as peças da ceramista francesa (Cécile trabalha sobretudo com barro branco, ao qual junta um pigmento de cor e areia escura da praia). Pratos grandes, pratos pequenos, taças, chávenas de café, copos, bules, jarras e castiçais – tudo feito à mão, tornando cada peça única. Cç. da Estrela, 3, Lisboa > ter-sex 13h-19h, sáb 11h-19h
6.Livraria da Travessa
Numa cidade que, nos últimos anos (décadas?), tem visto livrarias caírem que nem tordos (e tabacarias e bancas de jornais e de revistas…), é de louvar o nascimento da Livraria da Travessa, histórica casa do Rio de Janeiro que, em 2019, inaugurou em Lisboa a primeira loja do grupo fora do Brasil. Abriu no Príncipe Real, paredes-meias com a Casa Pau Brasil, com o projeto arquitetónico a cargo da dupla Bel Lobo/Bob Neri (em equipa vencedora, não se mexe), que, em Portugal, trabalharam com o português Pedro Barata. “Foram eles que transformaram a livraria em ambiente”, disse, na altura, à VISÃO Rui Campos, um dos fundadores do conhecido polo cultural carioca. Por consequência, desde maio que, em Lisboa, também se sente aquele “jeitinho” de “saber-fazer” da Travessa, que consiste em organizar inúmeras iniciativas à volta dos livros e, sobretudo, em tratá-los como se fossem objetos de desejo, de sedução. Estranhos tempos estes, em que se procuram modelos de negócio na estratosfera. Na Livraria da Travessa, as coisas são bem-feitas. Simplesmente. R. da Escola Politécnica, 46, Lisboa > T. 21 346 0553 > seg-sáb 10h-22h, dom 11h-20h
7.Trotinetas elétricas partilhadas
No final do ano passado, num texto como este, em que elegemos o nosso Se7e, escrevemos sobre as bicicletas partilhadas. E na última linha, já fazíamos referência às trotinetas elétricas que também funcionam através de uma app, pois tinham acabado de chegar às nossas ruas. Mal sabíamos nós a quantidade de vezes que haveríamos de tropeçar nelas, durante 2019. Não admira: são cerca de cinco mil, literalmente, espalhadas pela cidade. De início, era vê-las em grandes velocidades e, depois de usadas, atiradas para os sítios mais inusitados – a página de Instagram Deadscooter nasceu para retratar isso mesmo, logo em janeiro. Depois do boom inicial, as coisas acalmaram e até se criaram regras para ordenar o estacionamento e incentivar o uso de capacete. Hoje – a última empresa a juntar-se a este negócio foi a Uber –, as trotinetas já fazem parte da paisagem urbana e nós gostamos desta alternativa sustentável ao escape do automóvel.