Há uns dias, íamos a passar junto à Rua do Museu da Artilharia quando uma das minhas filhas apontou para uma capela em que eu nunca reparara. “Também teve de ficar escondida como a sinagoga do Rato?” Comecei por me rir com a sua pergunta mas corri a relembrar-lhe a “lição” pelos vistos aprendida só em metade. O templo judaico foi construído dentro de um quintal murado e sem fachada para a rua, porque assim o ditava a Constituição em vigor; não teria sido com certeza o caso da Ermida do Senhor Jesus da Boa Nova.
A explicação mete uma zorra, no caso um carro de leito baixo para transporte de objetos pesados e não uma raposa velha e matreira. E mete sobretudo muitos quilos de bronze. Tantos que Bartolomeu da Costa, o mesmo brigadeiro que se encarregou da fundição da estátua equestre de D. José I, demorando oito minutos num só jato, desenhou uma zorra capaz de a transportar entre o atual Campo de Santa Clara e o Terreiro do Paço.
Em maio de 1775, a zorra foi puxada por mil homens que gastaram quase quatro dias até ao destino. E a viagem obrigou à construção do aterro que permitiu a sua passagem, originando uma nova calçada e “enterrando” a fachada da ermida que hoje funciona como igreja ortodoxa e não se quer escondida.