
Forradas a folha de ouro e decoradas com motivos chineses, as estantes da Biblioteca Joanina guardam um acervo de cerca de 60 mil livros, com inúmeras relíquias desde o século XVI ao XVIII
Fernando Veludo
1. Biblioteca Joanina, Coimbra
Tem lugar cativo na lista das bibliotecas mais bonitas do mundo. Obra-prima do Barroco, foi construída durante o reinado de D. João V (o retrato está em lugar de destaque), com os meios da própria Universidade de Coimbra (UC) – 67 contos de réis, o triplo do seu orçamento anual –, e ficou concluída em 1728. “É tão bela que faz esquecer a sua funcionalidade, mas trata-se de uma biblioteca viva e não de um museu”, sublinha José Bernardes, diretor da Biblioteca Geral da UC, responsável pela Joanina.
Nas estantes, forradas a folha de ouro e decoradas com motivos chineses, guarda-se um acervo de cerca de 60 mil livros, com inúmeras relíquias desde o século XVI ao XVIII, disponíveis para consulta (cumprindo-se as condições de segurança) e procuradas por investigadores do mundo inteiro. “Durante séculos, esta foi a única universidade do reino e do império, pelo que é natural que se tenha acumulado aqui este tesouro”, lembra José Bernardes. O trabalho de conservação é “uma dor de cabeça constante”, brinca o diretor, havendo um controlo diário de humidade, temperatura e partículas – as duas colónias de morcegos residentes dão uma ajuda no combate às pragas. “Deixar estragar um livro do século XVI pode ser uma catástrofe irrecuperável.” As visitas têm, por isso, de ser condicionadas, feitas em 20 minutos e para grupos com o máximo de 50 pessoas.
A não perder: Um exemplar da primeira edição d’Os Lusíadas, uma Bíblia Atlântica, do século XII, e uma Bíblia Hebraica (um dos 20 exemplares no mundo) estão entre as raridades da Joanina
Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra > T. 239 859 841 > seg-dom 9h-17h > €12 (incluído na visita geral à universidade)

É necessária autorização prévia para entrar na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, com cerca de 36 mil volumes, desde o século XV ao XVIII, dedicados a ciências (Medicina, Física, Matemática, Astronomia), literatura de viagens, botânica, clássicos e religião, entre outras áreas
Marcos Borga
2. Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
No livro The World’s Most Beautiful Libraires, editado pela Taschen, podemos encontrar a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. Esta é apenas uma das menções que a ela se fazem, muitas outras publicações nacionais e internacionais distinguem-na, quer pela sua beleza quer pela riqueza do património que guarda nas estantes de madeira. Mais do que um motivo de orgulho, e um regalo para os nossos olhos, é um verdadeiro repositório do saber. “É uma biblioteca conventual notável, formada a partir de encomendas joaninas”, diz Mário Pereira dos Santos, diretor do Palácio Nacional de Mafra, recuando ao século XVIII, data de fundação, quando “D. João V enviou emissários por toda a Europa para comprar grandes bibliotecas de importantes colecionadores.”
Ali, “vivem” cerca de 36 mil volumes, desde o século XV ao XVIII, dedicados a ciências (Medicina, Física, Matemática, Astronomia), literatura de viagens, botânica, clássicos e religião, entre outras áreas. A biblioteca, que se observa apenas da entrada e cuja consulta requer autorização prévia, destaca-se ainda pelo núcleo composto por cerca de mil livros proibidos, como os ensaios de Montaigne e a primeira edição das obras completas de Gil Vicente. “Este núcleo é o coroar da Bula do Papa Bento XIV, que institui a biblioteca e a autoriza a ter livros proibidos”, explica Mário Pereira dos Santos. Atualmente estão a desenvolver um estudo para saber a origem destes livros: “Queremos descobrir quem eram os seus proprietários e como vieram parar a Mafra.”
A não perder: Existe um núcleo significativo dedicado à literatura religiosa. A coleção de Bíblias é notável, das quais se destaca a célebre Bíblia Complutense (do cardeal Cisneros), a primeira poliglota, editada em 1514
Terreiro D. João V, Mafra > T. 261 817 550 > seg, qua-sex 9h30-13h30, 14h-16h (consulta por marcação prévia)
A Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa, reabriu em junho de 2017, depois de dois anos em obras
Mário João
3. Biblioteca Palácio Galveias, Lisboa
Por dia, cerca de 800 pessoas sentam-se nas várias salas, jardim, terraço e esplanada da Biblioteca Municipal Palácio Galveias, no Campo Grande, que ocupa um edifício nobre construído nos finais do séc. XVII. Com as obras de melhoramento, concluídas em junho de 2017, as salas distribuídas pelo piso térreo e pelo primeiro andar foram adaptadas para estudo e, desde então, há mais lugares e espaços polivalentes para formação, conferências, sessões de cinema, teatro e até aulas de ioga. Ali, frequentadores de todas as idades deixam-se embrenhar nas leituras e nos estudos, seja em frente a um computador portátil ou de caneta na mão, e são poucos os que se distraem nas redes sociais.
A não perder: Foi na Biblioteca das Galveias que José Saramago começou “realmente a aprender a ler”, escreveu o Prémio Nobel em Cadernos de Lanzarote: Diário V
Campo Pequeno, Lisboa > T. 21 780 3020 > ter-sex 10h-19h, seg e sáb 13h-19h
4. Biblioteca de Marvila, Lisboa
Com uma forte componente de inclusão social, a Biblioteca de Marvila, com 2 600 m2, é a maior em termos de área de construção e a segunda, depois das Galveias, em termos de coleção, da Rede de Bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa. Construído de raiz, o edifício, desenhado pelo arquiteto Hestnes Ferreira, conta com cerca de 13 mil títulos à disposição, três salas com atividades para crianças, cafetaria, oficina de trabalhos manuais e um auditório. É também nesta biblioteca que os grupos coral infantil e de teatro juvenil, abertos à participação de todos, ensaiam semanalmente. A partir de março, haverá um cantinho especial para os adolescentes dos 13 aos 17 anos descobrirem: a nova sala com videojogos, jogos de tabuleiro e narrativos.
A não perder: É a mais recente da Rede de Bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa – composta por 16 bibliotecas mais uma, itinerante
R. António Gedeão, Marvila, Lisboa > T. 21 817 3000 > ter-sex 10h-18h, 1º e 3º seg e sáb 10h-18h

Nesta sala do Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida, em Évora, contam-se cerca de 35 mil livros, na sua maioria dos séculos XVIII e XIX
DR
5. Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida, Évora
Em maio de 2013, após a recuperação do edifício, abria ao público o Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida, no Páteo de São Miguel, antigo Castelo de Évora e atual sede da fundação com o mesmo nome. Nesta sala com mobiliário do século XIX, encomendado ao designer parisiense Henri Fourdinois, contam-se cerca de 35 mil livros, na sua maioria dos séculos XVIII e XIX, sobre temas como legislação, relatórios técnicos, Literatura Portuguesa e Estrangeira, Teologia, artes e ofícios, Ciências Naturais, aos quais se somam as obras do arquivo da família Eugénio de Almeida, detentora de uma das maiores fortunas em Portugal, na segunda metade do século XIX.
A não perder: Os processos de expropriação do Casal do Monte Almeida, atual Parque Eduardo VII, propriedade da família Eugénio de Almeida, importantes para a reconstituição do urbanismo de Lisboa
Páteo de São Miguel, Évora > T. 266 748 300 > seg-sex 9h-12h30, 14h-17h30, mediante marcação prévia

Inaugurada em 2008, a Biblioteca de Viana do Castelo tem a assinatura do arquiteto Siza Viiera
DR
6. Biblioteca Municipal de Viana do Castelo
O desenho, os materiais, o mobiliário, o uso sábio da iluminação natural. A assinatura de Siza Vieira está bem visível no edifício, inaugurado em 2008, que tem cativado, desde o início, os apaixonados pela arquitetura. “Recebemos muitos pedidos de visitas guiadas”, conta Rui Viana, diretor da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.
As janelas, a rasgar na horizontal o betão branco, revelam uma vista magnífica sobre o rio Lima e tornam as zonas de leitura especialmente apelativas. “Temos uma ocupação média diária de 300 utilizadores, um número interessante”, sublinha o responsável. Inclusive de deficientes visuais, que recorrem ao serviço de leitura especial da biblioteca. Muito concorridas são também as duas sessões de leituras dramatizadas para crianças, todos os sábados.
A não perder: A primeira edição do livro Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, de Frei Luís de Sousa, além de um fundo com exemplares únicos sobre Viana do Castelo e o Alto Minho
Al. 5 de Outubro, Viana do Castelo > T. 258 809 340 > seg-sex 9h-19h, sáb 10h-19h

O edifício da Biblioteca em Matosinhos foi desenhado pelo arquiteto Alcino Soutinho
Lucilia Monteiro
7. Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos
É à boleia da Festa da Poesia, do festival Literatura em Viagem, da Comunidade de Leitores, orientada pelo escritor Valter Hugo Mãe, para lá das horas do conto, de exposições, oficinas e da apresentação de livros, que se faz a agenda de atividades na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, aberta em 2005.
Paredes-meias com a Câmara de Matosinhos, rodeado por um espelho de água, o edifício, desenhado pelo arquiteto Alcino Soutinho, parece flutuar. Divididos por dois pisos, estão cerca de 90 mil documentos – entre livros, jornais e revistas –, para consultar ou levar para casa. É o que faz, habitualmente, Joana Neiva. A assistente social explica que gosta “da diversidade, de percorrer os corredores e de espreitar as estantes”. Mesmo em épocas de exames, em que se encontram mais alunos a estudar, há sempre lugar para folhear um livro.
A não perder: Na biblioteca há um conjunto de cartas e bilhetes amorosos de Florbela Espanca, do período em que a poeta viveu em Matosinhos, no qual fala de estados de alma, de paixões e vivências na cidade
R. Alfredo Cunha, 139, Matosinhos > T. 22 939 0950 > seg-sex 9h30-19h, sáb 9h30-12h30, 13h30-17h30

A Biblioteca Muncipal Almeida Garrett, no Porto, foi projetada pelo arquiteto José Manuel Soares, no âmbito do Porto – Capital Europeia da Cultura, em 2001
8. Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto
Chega-se à Biblioteca Municipal Almeida Garrett por entre plátanos e ao som do chilrear dos pássaros. O edifício, de linhas modernas, enquadrado pelos jardins do Palácio de Cristal, surge quase sem se dar por ele. À entrada, fica a galeria de exposições e, dois lanços de escada depois, encontra-se a biblioteca propriamente dita, ampla e luminosa. O ambiente informal, a divisão subtil entre os lugares e o acesso fácil e rápido às publicações são um convite à leitura.
Projetada pelo arquiteto José Manuel Soares, no âmbito do Porto – Capital Europeia da Cultura, em 2001, a Almeida Garrett disponibiliza uma coleção de mais de 100 mil documentos, entre livros, publicações periódicas (jornais e revistas) e audiovisuais. “É um centro de cultura gratuito e aberto a todos”, frisa Mónica Guerreiro, diretora municipal de Cultura e Ciência. Além das aquisições para manter o catálogo atual, a fama de “boa casa para preservar” tem ajudado a aumentar as doações. Recentemente, a RDP e a Rádio Renascença entregaram as suas coleções de vinil, com mais de 34 mil discos, as quais, garante Mónica Guerreiro, vão estar disponíveis na fonoteca da cidade, a inaugurar durante este ano.
A não perder: Ao abrigo do projeto europeu Audiovisual Acess Agency e da parceria com o festival Doclisboa, na Almeida Garrett há 21 filmes documentais, entre curtas e longas-metragens, para ver em computadores
R. D. Manuel II, Jardins do Palácio de Cristal, Porto > T. 22 608 1000 > seg 14h-18h, ter-sáb 10h-18h

A Biblioteca de São Lázaro, a mais antiga biblioteca de Lisboa, tem uma sala hexagonal forrada com madeiras nobres
Diana Tinoco
9. Biblioteca de São Lázaro, Lisboa
Dentro da pequena sala hexagonal da Biblioteca de São Lázaro, forrada com madeiras nobres, o silêncio só é quebrado pelo tiquetaque do relógio. E pelo sussurrar de dois leitores, que levantam o sobrolho à nossa entrada. Nesta que é a mais antiga biblioteca municipal da capital ainda em funcionamento, com mais de 20 mil documentos e gerida pela Junta de Freguesia de Arroios, estão mais quatro pessoas de rosto mergulhado em folhas de jornal, computadores portáteis e cadernos de apontamentos. Estes são apenas seis dos cerca de 200 visitantes que ali entram por dia para estudar, ler ou consultar livros. Ou ainda para ouvir um conto, fazer uma aula de ioga ou de dança, atividades organizadas todos os sábados a pensar nas famílias.
Mandada construir por vontade de Elias Garcia, professor da Escola do Exército, jornalista e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, começou por ser a biblioteca da Escola Pública Número 1, passando em 1883 a ser de utilização pública. Ainda antes de se espreitarem as estantes à volta das mesas dispostas em círculo, são as escadas em caracol que nos levam até uma pequena varanda de ferro e a percorrer, por exemplo, as obras de História Universal, política, Ultramar e colonialismo. Já cá em baixo, a viagem literária faz-se pelas áreas de Sociologia, Economia, Filosofia e romance português. “Assegurar o serviço de apoio à leitura e ir preservando os autores e as obras são os nossos principais objetivos”, frisa Rui Faustino, coordenador da Biblioteca de São Lázaro.
A não perder: Em 1926, quando se deu a queda da Primeira República, foi a única Biblioteca Municipal de Lisboa a manter-se em funcionamento
R. do Saco, 1, Lisboa > T. 21 885 2672 > seg e sáb 10h-18h, ter-sex 10h-19h

A maioria dos livros da biblioteca de Celorico de Basto (mais de 180 mil documentos) foI doados por Marcelo Rebelo de Sousa, atual
DR
10. Biblioteca Municipal Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, Celorico de Basto
Para uma vila com 20 mil habitantes, uma biblioteca com mais de 180 mil documentos é um tesouro inestimável. Uma coleção construída graças às doações do atual Presidente do República, Marcelo Rebelo de Sousa, com ligações familiares a Celorico de Basto. “Quando era comentador na TVI, as remessas eram mais avultadas, mas ele continua a enviar imensos livros”, conta Fátima Cunha, diretora da biblioteca. Literatura (portuguesa e estrangeira), Direito e Ciências Sociais são as áreas mais representadas. Inaugurada em 2001, no Parque Urbano do Freixieiro, zona ribeirinha próxima do centro e da comunidade escolar, a biblioteca foi crescendo ao ritmo das necessidades, como a criação de um centro documental e bibliográfico, direcionado para investigadores e estudantes.
A não perder: A biblioteca tem dois núcleos museológicos: um dedicado à Arqueologia, outro à Imprensa
Quinta de S. Silvestre – Gémeos, Celorico de Basto > T. 255 320 360 > ter-sáb 9h-18h

Nas estantes da Biblioteca da Sociedade de Geografia, em Lisboa, há obras de todas as áreas da Ciência, apenas para consulta
Diana Tinoco
11. Biblioteca da Sociedade de Geografia, Lisboa
Paredes-meias com o Coliseu dos Recreios, a Sociedade de Geografia de Lisboa esconde, no seu primeiro andar, uma biblioteca com mais de 70 mil monografias, 5 500 documentos cartográficos e perto de 500 atlas, entre outra documentação manuscrita, como diários e cartas. De portas abertas desde 1897, embora nem sempre neste piso, não se estranhe o ar meio decadente, mas que lhe confere um certo glamour. Para lá se chegar há que passar pela Sala dos Presidentes desta sociedade, formada em 1875, e pela Sala da Cartografia, fiel guardiã dos mapas e dos atlas.
Mais uns passos e entra-se na biblioteca, ocupada, nesta manhã, por Ana Lopes, trabalhadora-estudante. “Conheci esta biblioteca quando fiz uma visita guiada ao museu da Sociedade de Geografia. É central e tem um ambiente calmo, ideal para se estudar.” Ao lado do busto de Henrique Dias de Carvalho, major do Exército Português, e da mesa dedicada a Fernando Pessoa, está o grande livro The Illustrated London News, de 1919, a folhear com todo o cuidado. Já nas restantes estantes, há obras de todas as áreas da Ciência, apenas para consulta.
A não perder: Na categoria das raridades, destaca-se a revista ilustrada O Ocidente. Na página 204, pode ler-se um artigo sobre a mudança, em 1890, da Sociedade de Geografia de Lisboa para as atuais instalações.
R. das Portas de Santo Antão, 100, Lisboa > T. 21 043 4035 > seg-sex 10h-13h, 14h-17h

O edifício da Biblioteca Municipal de Ílhavor resulta da reabilitação de um solar do séc. XVII com a construção de áreas modernas, um projeto assinado pelos arquitetos Nuno e José Mateus