O comboio, de cor azul e com o brasão nacional, não deixará indiferente quem passe, nas próximas semanas, na Estação de S. Bento, no Porto, de onde parte para mais uma série de 10 viagens gastronómicas ao Douro, até à emblemática Quinta do Vesúvio, uma das mais simbólicas de Dona Antónia Adelaide Ferreira (a Ferreirinha). De facto, o The Presidential Train, que entre 1910 e 1970 recebeu chefes de Estado, o Papa Paulo VI ou a Rainha Isabel II de Inglaterra, é hoje uma experiência de turismo ferroviário que acabou por ser reconhecida, em 2017, como o Melhor Evento Público do Mundo nos BEA Awards (considerados os Óscares dos Eventos). E embora estas viagens – que acontecem entre 7 de abril e 1 de maio – possam não ser acessíveis a todos (cada uma custa €500), são uma oportunidade única para viver, por dentro, este comboio que é património histórico e só deixa o Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, na primavera e na época das vindimas (setembro e outubro).
Tal como aconteceu na última edição do ano passado, todos os chefes de cozinha são portugueses e já não se resumem exclusivamente a estrelas Michelin, apesar de três deles terem sido premiados com essa distinção – casos de Rui Paula (cozinha nos dias 7 e 8 de abril), João Rodrigues (21-22 abr) e Henrique Sá Pessoa (30 abr-1 mai). Vasco Coelho Santos, chefe do Euskalduna Studio, no Porto, considerado “um dos novos nomes da cozinha portuguesa, com um talento invulgar”, como o define Gonçalo Castel-Branco, mentor desta iniciativa, será o responsável pela cozinha nos dias 14 e 15 abril. E, uma vez mais, o The Presidential Train volta a juntar um jovem talento a um chefe mais experiente na cozinha. Este ano, será Bruno Caseiro (restaurante Cavalariça, Comporta) a cozinhar com António Galapito (O Prado, Lisboa) nos dias 28 e 29 de abril, com a curiosidade de ambos terem passado pela cozinha do chefe Nuno Mendes, em Londres.
Na cozinha improvisada no vagão que outrora levou mercadorias – sem água canalizada, nem gás – os chefes preparam pratos com os mesmos sabores que apresentam nos seus restaurantes. Vasco Coelho Santos, que se estreou no ano passado no The Presidential Train juntamente com João Oliveira numa “experiência incrível”, terá, desta vez, a cozinha por conta própria e, confessa-nos “sentir uma responsabilidade acrescida”. Ao lado da sua equipa no Euskalduna, servirão cinco pratos, alguns dos quais semelhantes aos que apresentam no restaurante do Porto, como a gamba e caril (um clássico), a cavala, pepino e espuma de gin e a já célebre rabanada que, neste caso, será acompanhada com gelado de leite de cabra. Acrescem ainda a corvina e as tripas à moda do porto reinventadas e o porco bísaro em várias texturas.
Mas no próximo fim de semana, dias 7 e 8, será Rui Paula a dar o pontapé de saída. O chefe do Terraço do Tivoli Hotel, em Lisboa, do DOC e DOP, no Porto, e da Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, estreia-se na cozinha deste comboio com pratos que serve neste último, como a vieira, maracujá, manga e vinagreta asiática, o tamboril, avelã e champanhe (nas entradas), o arroz de lula, o rabo de boi e texturas de cenoura, e flor de hibiscos e yuzu, chocolate e especiarias (nas sobremesas). Rui Paula conta-nos ter optado por “pratos confortáveis, para que os viajantes comam bem”, mas, ao mesmo tempo, possíveis de confecionar num comboio em movimento. Os vinhos são outra parte importante desta viagem. Todo o almoço será harmonizado com vinhos da Niepoort e da Graham’s, da família Sygminton, proprietária da Quinta de Vesúvio.
“Não gostamos de história a cheirar a mofo”, diz-nos Gonçalo Castel-Branco, referindo-se aos serviços exclusivos que terá a bordo deste comboio histórico. Caso do aroma preparado pela Castelbel “baseado no terroir do Douro” (à venda em exclusivo no The Presidential) que se cheira mal se entra no comboio, ou dos muitos mimos que serão servidos ao longo da viagem, de ida e volta, de cerca de quatro horas, até à Quinta do Vesúvio. Como os queijos do Alentejo, Açores e Azeitão, as conservas da José Gourmet, os chás exclusivos da TWG ou os chocolates belgas da Neuhaus. Sem esquecer os sabores mais tradicionais como os rebuçados da Régua que serão distribuídos pelas típicas vendedoras no interior do comboio, à passagem pela Estação. Ao longo do percurso de regresso ao Porto, escutar-se-á guitarra portuguesa e música ao vivo no bar. Motivos não faltam, portanto, para que estas viagens – habitualmente mais concorridas por estrangeiros, principalmente, australianos, norte-americanos e ingleses – se tornem inesquecíveis.
The Presidential Train > 7-8 abr (Rui Paula) > 14-15 abr (Vasco Coelho Santos); 21-22 abr (João Rodrigues) > 28-29 abr (António Galapito e Bruno Caseiro) > 30 abr-1 mai (Henrique Sá Pessoa) > Estação de S. Bento, Porto: 11h15 (partida) chegada 21h30 (chegada) > €500