
Inaugurado a 30 de agosto de 1930, o Hotel Palácio estava integrado no projeto de Fausto de Figueiredo, cujo objetivo era transformar o Estoril numa estância turística europeia
1. Hotel Palácio Estoril, Cascais
São dezenas, as fotografias que compõem a Galeria Real do Hotel Palácio Estoril, num dos corredores do hotel, mostrando a intensa vida social dos ilustres hóspedes que por aqui passaram desde a inauguração a 30 de agosto de 1930. “O hotel abriu com grandes elogios. Tínhamos 200 quartos e instalações de luxo”, diz Francisco Corrêa de Barros, diretor geral do Palácio Estoril e funcionário do hotel há 36 anos. “O edifício estava integrado no projeto de Fausto de Figueiredo, cujo objetivo era transformar o Estoril, antiga Quinta do Viana, numa sofisticada estância turística europeia”, explica. Na altura, o hoteleiro também adquiriu a linha de caminho de ferro que fazia a ligação de Lisboa a Cascais. Eletrificou-a e conseguiu que o Sud-Express fizesse a sua última paragem precisamente no Tamariz, trazendo os viajantes de Paris até esta costa portuguesa.
Depois dos primeiros hóspedes oficiais do hotel, o príncipe Takamato, irmão de Hirohito, imperador do Japão, e a mulher, a princesa Kikuko, muitos representantes de casas reais estrangeiras aqui estiveram. Durante a Segunda Guerra Mundial, elegeram este hotel como casa, em largos períodos de tempo ou no exílio. Elegante, luxuoso e bem localizado, o Palácio Estoril também serviu de cenário à espionagem. Tendo sido escolhido para quartel-general dos ingleses durante a guerra, por aqui se alojou Ian Fleming, o escritor que inventou a personagem de James Bond, inspirado no agente duplo Dusko Popov, que também aqui esteve hospedado. Não é de estanhar que tenha sido até cenário do filme 007 – Ao Serviço de Sua Majestade. R. Particular, Estoril > T. 21 464 8000 > a partir de €200

A sala Quatro Estações do Vidago Palace, em Chaves, recupera os tempos das festas e bailes que se faziam na primeira metade do século XX, com decoração de interiores a cargo da dupla José Pedro Vieira e Diogo Rosa Lã
2. Vidago Palace, Chaves
Atravessamos os portões de ferro e imaginamos como seria entrar neste palácio, em outros tempos: de limusine, chapéu na cabeça, luvas de renda nas mãos, conduzidos por um motorista, vestido também a rigor, que nos abriria a porta junto à enorme escadaria. Já não se veem estes cenários no Vidago Palace – a não ser na série homónima, de época, exibida atualmente na RTP1 – mas é fácil imaginar o ambiente aqui vivido durante a Belle Époque, quando a aristocracia procurava as águas termais da vila transmontana para curar maleitas.
Reaberto em 2010, cem anos depois de instaurada a Primeira República Portuguesa, e após profundas obras que o dotaram do luxo do século XXI, sem lhe estragar identidade e património arquitetónico, o hotel (gerido pela UNICER) dispõe de 70 quartos e suítes, restaurante e bar, salões de festas e um spa desenhado por Siza Vieira com duas piscinas (interior e exterior) e 20 salas de tratamento (algumas com águas de Vidago). O campo de golfe, com 18 buracos, é outro atrativo. O hotel, onde muitas famílias abastadas se habituaram a passar férias ou a passear (são cem hectares de parque e floresta com plátanos, magnólias, pinheiros e cameleiras), continua a ser um local de memórias. O atual diretor, Jorge Machado de Almeida, lembra-se bem de aqui vir passar algumas das férias de verão com os pais que fugiam do Algarve em agosto. “Tenho fotografias nestas varandas”, conta. Os seus objetivos, porém, passam por apostar na internacionalização de Vidago, transformando a estatística atual que nos diz que a maioria dos clientes são ibéricos (64% portugueses, 11% espanhóis). Parque de Vidago, Vidago, Chaves > T. 276 990 920 > a partir de €250

O projeto inicial do Ritz incluiu várias encomendas ao estrangeiro: as cozinhas, o aquecimento e a lavandaria vieram da Alemanha, os ascensores da Suíça, os motores da cozinha de França, os frigoríficos e as fechaduras dos EUA, os sanitários de Itália
3. Ritz Four Seasons Hotel Lisboa
Reza a história que a noite de 25 de novembro de 1959, em Lisboa, foi memorável e auspiciosa. Inaugurado na véspera, o hotel Ritz recebia um baile de gala com dois mil convidados, duas orquestras e uma ceia preparada por Pierre Gachet. Estava de portas abertas a unidade hoteleira imaginada por António de Oliveira Salazar que, no final da Segunda Guerra Mundial, acreditou que faltava a Portugal um grande hotel capaz de receber o turismo internacional, tal como já acontecia noutras capitais europeias.
O desafio fora lançado a Ricardo Espírito Santo e Silva, que reuniu um grupo de dez empresários, entre os quais Manuel Queiroz Pereira, pai de Pedro Queiroz Pereira, atual proprietário do hotel. Foi a sociedade que formaram, a SODIM, que criou de raiz este edifício modernista, projetado por Porfírio Pardal Monteiro e construído com os melhores materiais da altura. Os interiores opulentos, ricamente decorados com obras de arte de grandes artistas, como Almada Negreiros – as tapeçarias Centauro estão nas paredes do Salão homónimo – Lagoa Henriques, Carlos Botelho ou Querubim Lapa, são um dos ex-líbris do hotel.
Hoje, quase 58 anos depois, o Ritz é gerido pela cadeia Four Seasons Hotels & Resorts, mas continua a servir os hóspedes como no primeiro dia. O serviço de excelência e discreto, como se quer num hotel desta categoria, toma forma longe da vista dos clientes em milhares de metros quadrados de corredores e com a ajuda de 12 elevadores de serviço. Uma máquina afinada com cerca de 200 funcionários que tudo fazem para proporcionar uma boa estada aos hóspedes, até em situações excecionais – como quando receberam a numerosa comitiva do Rei Hassan II de Marrocos, com a logística a implicar grandes mudanças em quartos, vários pisos e até na cozinha, porque as refeições eram confecionadas por uma equipa de dezenas de cozinheiros e criados.
Além dos atuais 242 quartos e 40 suítes, do spa (aberto em 2013) e centro de fitness (com uma pista de corrida), o hotel Ritz sempre teve disponíveis serviços de bar e restaurante, mas também uma galeria com lojas, que ainda existe, a discoteca Carrossel que fechou em 1974, cabeleireiro e barbeiro, onde hoje está António Caeiro, que tanto cuida da aparência de notáveis da sociedade portuguesa como de estrelas internacionais, como o ator Harrison Ford que, no ano passado, lhe confiou a sua barba. R. Rodrigo da Fonseca, 88, Lisboa > T. 21 381 1400 > a partir de €400 (sem pequeno-almoço)
Inaugurado a 1 de novembro de 1891, o Belmond Reid’s Palace é o mais antigo hotel do Funchal
4. Belmond Reid’s Palace, Funchal
Em 1920, os cartazes publicitários do Reid’s Palace
– agora reproduzidos em postais para enviar pelo correio –, já prometiam dias de sol animados e banho privado de mar. Razões porque o luxuoso hotel do Funchal, construído sobre um rochedo a mando do escocês William Reid, começou, desde cedo, a ser procurado pela alta aristocracia. Hoje, e apesar das três belas piscinas a aproveitar a escarpa (duas delas aquecidas), continua a dar-se mergulhos diretos para o mar, no lugar que foi durante anos o cais de desembarque dos hóspedes (o aeroporto só seria inaugurado em 1964). Do navio ancorado ao largo para o bote; do bote para o cais e depois escada acima, não havendo estatuto que lhes valesse.
Aberto em 1891, faz 126 anos no próximo dia 1 de novembro, o Reid’s Palace tem história, e histórias, de sobra para contar. De quem por lá passou – como Winston Churchill ou Bernard Shaw que dão nome às duas suítes presidenciais. Mas também tradições, que se mantêm até hoje: a de tomar o chá das cinco com scones, ou beber champanhe ao final da tarde, na varanda principal; a de, às terças, haver jantar dançante na Dinning Room, o mais elegante dos cinco restaurantes do hotel, que foi sendo aumentado ao longo dos anos (primeiro em 1937, pela família Blandy que entretanto o adquiriu, depois nos anos 1960, com a construção da Ala Jardim). Reid não chegou a ver o seu sonho concretizado (morreu um ano antes da inauguração), mas hoje é ele quem dá nome ao “novo” restaurante William, com carta do chefe Joachim Koerper, executada por Luís Pestana, que aposta nos ingredientes madeirenses – o que já lhe valeu a (ambicionada) Estrela Michelin, em novembro do ano passado. I.B. Est. Monumental 139, Funchal, Madeira > T. 291 717 171 > a partir de €315 (época baixa), €415 (época alta)

No Lawrence’s Hotel, em Sintra, além da estrutura do edifício do século XVIII, resistiram à passagem do tempo as escadas de pedra e a antiga pia de cozinha (que agora serve de lago) na zona da receção, e alguns tetos pintados
5. Lawrence’s Hotel, Sintra
Pela Rua Consiglieri Pedroso, no centro da vila de Sintra, já não passam cavaleiros nem burriqueiros como em 1764 quando abriu o Lawrence’s, o hotel mais antigo da Península Ibérica. Agora, há carros e charretes e um vai e vem de turistas. Alguns vêm com o propósito de pernoitar ou apenas de visitar este pequeno hotel de cinco estrelas e 16 quartos que, em tempos, alojou hóspedes ilustres. Em julho de 1809, foi Lord Byron que aqui escreveu parte da obra A Peregrinação de Childe Harold, onde descreve Sintra como um glorioso éden. Também Eça de Queirós lhe faz referência em Os Maias, quando descreve um jantar no restaurante do hotel com bacalhau à Alencar, um prato que hoje faz parte da carta. Não é, por isso, de estranhar que os quartos mais pedidos sejam as duas suítes que levam os seus nomes. “Vêm pessoas de todo o mundo à procura destes quartos e de referências à passagem dos escritores”, explica a rececionista Margarida Fazenda. Esta espécie de romaria leva a que os funcionários do hotel tenham que fazer, muitas vezes, uma visita guiada às instalações, em particular a estes quartos. “Uma vez não conseguimos mostrar o quarto de Lord Byron a uma turista coreana, mas ela ficou emocionada só de tocar na porta e na parede onde está o nome do escritor”, conta Margarida Fazenda.
Em 253 anos de vida do Lawrence’s, cabem ali muitas histórias, várias mudanças de proprietário e de nome – chamou-se Estalagem dos Cavaleiros e Hospedaria Inglesa –, e há até referências de que aqui tenha funcionado uma fábrica onde se produziram os primeiros pastéis de feijão. Esteve em ruínas, mas graças ao casal holandês Willem e Coreen Bos ganhou nova vida em 1999, reabrindo depois de obras profundas. Entretanto, já são novamente outros os proprietários, que, espera-se, lhe hão de conservar o charme e as marcas da história. R. Consiglieri Pedroso, 38-40, Sintra > T. 21 910 5500 > a partir de €170

No Infante Sagres, o primeiro hotel de luxo do Porto aberto em 1951, a iluminação ainda se acende no interruptor
Rui Duarte Silva
6. Hotel Infante Sagres, Porto
As chaves, arrumadas com aprumo, no chaveiro da receção, são o primeiro sinal denunciador de tempos idos. No Infante Sagres, primeiro hotel de luxo do Porto, há pormenores que ainda são o que sempre foram, desde que abriu portas, em 1951, dias antes do S. João. Além das chaves, hoje quase raras num hotel de luxo, também a iluminação ainda se acende no interruptor, e, no que respeita ao serviço personalizado, o funcionário faz questão de levar o hóspede até ao quarto. A juntar, obviamente, à arquitetura do mestre Rogério de Azevedo, um dos pioneiros do modernismo, visível desde os tetos ao corrimão da escadaria, dos vitrais do mestre Ricardo Leone às portas do elevador (onde continua a existir uma cadeira no interior).
Apesar de já se notarem alguns detalhes da renovação, consequência do hotel ter sido adquirido recentemente pelo grupo The Fladgate Partnership, só em meados de 2018 se verá o resultado das obras de requalificação a cargo do arquiteto Teixeira Lopes, discípulo de Rogério de Azevedo. O objetivo, garante o diretor-geral Carlos Trindade, será “respeitar a traça original, manter a história e o património, aliando a personalização do serviço”. As obras, que deverão encerrar o hotel durante cinco meses a partir de novembro, devem converter os 62 quartos e as oito suítes atuais em 21 suítes e 60 quartos, criar salas de relaxamento, um ginásio, um clube noturno, um restaurante de fine dining e o primeiro Vogue Café em Portugal.
Também o livro de honra e as fotografias antigas estão a ser restauradas, para que não se percam as memórias deste hotel, por onde passaram personalidades como Dalai Lama, Catherine Deneuve, os reis da Noruega, a banda U2 ou Mário Soares (que ficava sempre na suíte 305, com vista para a Praça Filipa de Lencastre). Pç. Filipa de Lencastre, 62, Porto > T. 22 339 8500 > a partir de €160

Em 1990, o escritor e jornalista Fernando Assis Pacheco descrevia-se como “uma peça de mobiliário” do Grande Hotel do Porto: “Sinto-me nele como um pinto no ovo.”
Rui Duarte Silva