Os azuis e o amarelo torrado avistam-se ao longe – e quase não precisamos de nos aproximar dos muros da fábrica abandonada na Rua Brito Capelo para reconhecermos os traços geométricos de Hazul Luzah. O street artist, 35 anos, natural do Porto, nunca tinha pintado em Matosinhos e esta obra, concluída esta semana, em pouco mais de três dias, não podia fugir à proximidade com o Atlântico e à atividade piscatória da cidade.
“O mar era o tema óbvio. Os traços tentam refletir a ondulação, as senhoras [as mulheres sem rosto que são imagem de marca do artista] lembram as varinas, ali vai surgir um peixe, acolá um barco”, aponta Hazul, vestido com uma T-shirt do festival de arte urbana Putrica, horas antes de terminar o mural.
A obra marca o início de Matosinhos como Capital da Cultura do Eixo Atlântico – título que é este ano partilhado, pela primeira vez, em conjunto com Vila Real – e partiu de uma proposta da galeria de arte P55, situada paredes meias com os muros desta fábrica ao abandono. “A ideia é impulsionar para que se faça o mesmo em outras ruas da cidade”, mostrando que “as ruínas podem tornar-se peças de arte”, defende Aníbal Pinto de Faria, dono da P55, que vende bens de luxo em segunda mão. Para ele, esta “é uma arte democrática e transparente” e que não deve ficar por aqui. Em parceria com o Centro Empresarial Lionesa, que tem o maior mural de street art do país, a autarquia de Matosinhos organiza, a partir de junho, um Festival de Arte Urbana, que cobrirá algumas das paredes ao abandono da cidade. Como uma das fachadas do Bairro dos Pescadores.
Entretanto, e enquanto tem patente uma exposição de trabalhos na galeria Magma, em Bolonha, Itália, Hazul prepara-se para pintar, dentro de dias, uma parede no interior do Grande Hotel do Porto, um dos mais antigos da cidade. Antes do verão, espera-o “um muro gigante” em Rennes, Bretanha. Porque ele, um dos artistas que mais obras tem nas ruas do Porto, está cada vez mais internacional. E isso já quer dizer muito.