1. Civilizações e Doze Césares, de Mary Beard
A História é sempre mais complexa do que se pensa, quer a nível pessoal, quer na sua dimensão coletiva. Sendo uma construção, pode ser reformulada, acrescentada e aprofundada. Estes dois extraordinários volumes de Mary Beard, uma das mais destacadas classicistas inglesas da atualidade, apresentam justamente a complexidade do passado e novas formas de o entender. Civilizações é disso um bom exemplo. Trata-se de uma resposta ao famoso livro de Kenneth Clark, Civilização. O plural, aqui, faz toda a diferença. A uma visão eurocêntrica, Beard responde com imagens que moldaram o mundo à escala global, dando espaço a outras conceções do divino, por exemplo, ou ao lugar do espectador no entendimento e na leitura das obras de arte. É uma abordagem que combate as construções do passado (como o caso do historiador de arte alemão, do século XVIII, Winckelmann, na cristalização de um certo classicismo) para se abrir à diversidade. Diversa é, também, a leitura que Beard faz, em Doze Césares, das imagens do poder, a partir das palestras que deu nas Conferências A.W. Mellon de Belas Artes. O ponto de partida são os 12 protagonistas do início do Império Romano (segundo o modelo de Suetónio), mas o livro mostra como todas as épocas criaram a sua propaganda, ora seguindo modelos do passado, ora adulterando-os em benefício próprio. Gradiva, 240 págs., €25; e Presença, 400 págs., €29,90
2. Roma – História da Cidade Eterna, de Ferdinand Addis
É fácil viver fascinado com a cidade de Roma, como o autor desta monografia. Da sua fundação mítica à cidade moderna erguida entre ruínas, da exuberância do Renascimento à propaganda do fascismo de Mussolini, não faltam estórias, episódios e segredos a esta urbe, não por acaso conhecida por eterna. Para reconstituir toda a sua grandeza e importância no curso da História Universal, o historiador inglês Ferdinand Addis isolou 22 momentos-chave, bem representativos de pontos de afirmação ou de viragem da cidade. Claro que grande parte do livro (quase metade) é dedicada à antiguidade clássica, a imperadores e a gladiadores, mas outros protagonistas emergem ao correr das páginas e dos séculos. Escrita para o grande público, esta obra não esquece as representações artísticas de Roma, também elas responsáveis pela sua perenidade. Crítica, 624 págs., €23,90
3. Os Otomanos, Marc David Baer
A divisão do mundo em grandes blocos, forçosamente em confronto, é uma visão cada vez mais posta em causa pela historiografia moderna. Apesar das diferenças, e sem esquecer os conflitos, houve sempre diálogo, aprendizagem, colaboração. É o que esta síntese sobre o império Otomano nos revela. Para lá dos estereótipos e das ideias feitas, o contacto foi sempre frutuoso, numa vivência que ultrapassa a dicotomia Ocidente e Oriente. Aquele que foi um dos maiores impérios do mundo é aqui apresentado desde a sua fundação até ao seu ocaso na ressaca da I Guerra Mundial. A sequência de capítulos destaca o papel dos principais califas, mas destas páginas sobressaem, ainda, muitos outros protagonistas, incluindo mulheres, que foram capazes de criar um modelo de organização de vastos territórios e de interdependências sem paralelo. Um livro para conhecer o Outro que nós também somos. Temas e Debates/Círculo de Leitores, 560 págs., €26,60
4. A Era da Incerteza, Tobias Hürter
Em menos de 40 anos, o mundo tornou-se ainda mais perigoso do que já era. No início do século XX, um grupo de cientista explorou todas as potencialidades da matéria e as suas aplicações. Foi a época de ouro da Física, com nomes tão conhecidos como Marie Curie, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger ou Albert Einstein. Mas também uma época de guerra. É esse trajeto, da radioatividade à mecânica quântica, da Teoria da Relatividade à bomba atómica, que aqui se reconstituiu, com os conflitos militares e os dilemas morais em pano de fundo. Tobias Hürter, formado em Filosofia e Matemática, passa em revista os diversos protagonistas e os seus contributos, sempre consciente de que esta é uma história com um clímax em crescendo e definido pelo lançamento das bombas em Hiroxima e Nagasáqui, em 1945. Um livro para refletir, também, sobre as ameaças que pendem sobre o mundo contemporâneo. Crítica, 384 págs., €20,50