À exceção de alguns artistas de hip-hop, é cada vez mais raro, encontrar um discurso assim, direto e acutilante, sem medo das palavras, como aquele a que Luís Varatojo dá voz nesta Luta Livre. Depois de Peste & Sida, Despe e Siga, Linha da Frente, A Naifa ou Fandango, o músico regressa com um novo projeto em que mistura jazz, hip-hop e rock.
As letras, mais declamadas do que cantadas, são todas baseadas em histórias e factos reais, compiladas a partir de textos publicados na imprensa ao longo de dois anos. “Sou um consumidor ávido de informação e, entre 2018 e 2019, comecei a tirar notas de reportagens e artigos e a juntá-las em pequenos textos”, conta. Depois, percebeu “que poderiam ser colocados em cima de música”. O que lhe deu a oportunidade de explorar uma paixão relativamente recente: o jazz, que começou a ouvir apenas há cerca de dez anos. “Não me dizia nada quando era miúdo, mas hoje sou um enorme fã e gosto muito de fazer samples e beats a partir de discos antigos de jazz. E a dada altura pensei que juntar esses dois mundos, o da escrita e o do jazz, poderia resultar nalguma coisa.”
Técnicas de Combate tem a colaboração de vários músicos convidados: entre outros, o Coro Gospel Collective, o saxofonista Ricardo Toscano, Kika Santos, e João Pedro Almendra (antigo companheiro de Varatojo nos Peste & Sida)
Canções como Política (em que se ouve uma das frases-chave do álbum: “associações, sindicatos e partidos, as classes dominantes têm horror aos coletivos”), Ninguém Quer Saber, Iniquidade, O Problema é o Sistema, Escravo do Patrão ou Sushi Era no Japão falam-nos de assuntos como a globalização, a precariedade, a luta dos sem-terra ou a defesa do ambiente.
O objetivo inicial nem passava pela edição de um disco, mas antes pela disponibilização dos novos temas, com recurso a animações feitas por artistas gráficos, num canal próprio no YouTube. O primeiro confinamento e muitas horas passadas no seu estúdio caseiro fizeram o músico mudar de planos.