Na vasta discografia de Sérgio Godinho não faltam registos de concertos, noites passadas, em várias salas de espetáculos, que ficaram para sempre. No pequeno auditório do antigo Instituto Franco-Português (Escritor de Canções, 1990), no Coliseu de Lisboa (Noites Passadas, 1995), no Rivoli e no Ritz Club (Rivolitz, 1998), no Teatro Maria Matos, Centro Cultural de Belém, Casa da Música… Isto sem falar dos Três Cantos (em 2009, com José Mário Branco e Fausto) e da partilha de canções com Jorge Palma (Juntos, de 2015). O Teatro São Luiz, em Lisboa, já tinha sido palco de algumas gravações do disco Liberdade Ao Vivo, de 2014. Agora ganha protagonismo no novíssimo Ao Vivo no São Luiz.

Esta profusão de discos ao vivo não é acaso nem capricho. Uma das grandes forças de Sérgio Godinho é o dinamismo – a vida –, das suas canções. Crescem, experimentam novas roupagens e até mudam de estilo. Esse crescimento vê-se, e ouve-se, sobretudo, nos palcos, com os mais diferentes músicos como parceiros e diversas experiências. No booklet deste seu novo disco, Sérgio Godinho explicita-o, falando de uma “confrontação entre as minhas canções, a minha voz e a vida de outras galáxias”. Aqui, essa nova galáxia, é a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Cesário Costa, o piano de Filipe Raposo (também responsável pelos arranjos para orquestra) e, ainda, Os Assessores, a banda de Sérgio há vários anos, dirigida por Nuno Rafael.
Clássicos como O Primeiro Dia, A Noite Passada e Com Um Brilhozinho nos Olhos ouvem-se como nunca, com a riqueza do acompanhamento orquestral, com subtilezas que vamos descobrindo e valorizando a cada nova audição. Mas tudo começa com dois temas recentes (do álbum Nação Valente, de 2018), Noite e Dia e Grão da Mesma Mó, sinais da vitalidade criativa do músico que, em 2021, vai celebrar meio século de edições discográficas (o EP Romance de um Dia na Estrada é de 1971). “O curioso é que nunca nos cansamos de ouvir o Sérgio a cantar essas mesmas histórias, sempre como se fosse a primeira vez – aí surge a calma e a certeza de que haverá sempre um novo começo”, escreve o pianista Filipe Raposo. E, afinal, já se sabe, “o prazer é o que nos torna os dias úteis”.