Aos primeiros segundos, muitas das faixas do novo disco de Sara Correia não parecem ser, de todo, de um disco de fados. Por vezes, as canções acertam, depois, o caminho em direção aos mais reconhecíveis códigos fadistas; noutros casos, ainda, estamos perante a música popular portuguesa, em flirts, próximos ou distantes, com o imaginário do fado.
Do Coração encaixa bem numa tendência bem presente nos registos contemporâneos do género: a procura de novos letristas, muitos músicos a assinar as composições, uma abertura a colaborações de diversos registos. Nas fichas das canções, encontramos, entre outros, os nomes de Joana Espadinha, Luísa Sobral (num registo muito latino-americano, em Dizer Não, embalada pelo acordeão de Rúben Alves), António Zambujo (que canta em dueto numa música com a sua assinatura: Solidão), Vitorino, Jorge Cruz, Carolina Deslandes… Nesse labirinto de nomes, referências e contributos, percebe-se que Sara Correia procura o seu caminho, a sua marca, ajudada aqui pela produção experiente de Diogo Clemente que, aos 35 anos, consegue já ser uma referência (cinco letras num total de 11 são, também, suas e ele toca em praticamente todas as faixas).

No clássico dilema do segundo disco – continuar no mesmo caminho ou procurar nos trilhos? –, Sara Correia inclinou-se mais para a segunda hipótese. O futuro que se abre a partir deste Do Coração pode ter muitas cores e sonoridades, mas é quando canta fado mais clássico e tradicional que os pés de Sara pisam um chão sólido e o seu coração levanta voo.
Ouvindo a voz grave e potente de Sara, percebe-se que nada lhe falta para integrar a primeira divisão do concorrido mundo do fado de vozes femininas. Está lá tudo: o timbre, a técnica, o sentimento. E a ambição é alta, como se deduz até da opção de a editora (a Universal) colocar as letras no booklet em português e em inglês com o mesmo destaque.