
1. Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Uma novela gráfica que ganhou ressonância com o confinamento, e em que leitores dos 18 aos 81 anos podem identificar-se com a solidão e o tédio expressos nas pranchas coloridas e contemplativas. Miguel, 18 anos, passa o verão sozinho em casa: os pais foram de férias, a namorada pediu um tempo, os amigos estão num festival, o telemóvel e as redes sociais cansam-no. Entre reflexões pessoais e a observação do mundo (com metafóricos carreiro de formigas, trânsito visto do telhado, jogos heróicos…), a sua procura de sentido é a de todos nós. Planeta Tangerina > 200 págs. > €18,90

2. O Protesto, de Eduarda Lima
Estes azuis, rosas e brancos lembram os daqueles filmes passíveis de terem a realidade aumentada pelas lentes dos óculos 3D. Mas a mensagem tem a claridade da água: basta focarmos o olhar. Um dia, cala-se um pássaro. Os outros também deixam de cantar. E nada demora até os insetos deixarem de zunir, as vacas das quintas pararem de dar leite, esconderem-se presas e predadores da selva, bichos do zoo virarem costas ao público. É um manifesto ensurdecedor pró-planeta: um pequeno gesto, uma verdade incómoda podem fazer a diferença. Orfeu Negro > 40 págs. > €14

3. Balada para Sophie, de Filipe Melo e Juan Cavia
Há contratos faustianos e figuras satânicas com a cara de bode de Baphomet (um empresário musical), há influências do realismo mágico encontrado na literatura sul-americana (pianos levitadores), cenas psicadélicas sob as luzes de Las Vegas (Liberace, anyone?), gatos muito lá de casa, província francesa mitológica e referências a Tati e, já agora, a De Sica. E há nazis e colaboracionistas, génios e um Napoleão louco, mendigos generosos e pássaros com poupa a quem batizaram de Tintim, paixões sacrificiais, segredos e lemas inusitados como este: “Vivam cada dia como se tivessem cancro.” É uma rapsódia ambiciosa, humorada, agridoce, cheia de simetrias gráficas, a desta novela gráfica da dupla que criou a trilogia de BD As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy. E é uma homenagem ao piano e à música (há uma pauta composta por Filipe Melo na história), explorada na relação de admiração-ódio entre dois pianistas, um génio íntegro e um pianista-entertainer à força. Tinta-da-China > 320 págs. > €36

4. O Leão Sem Juba, o Elefante Sem Tromba e a Casa Sem Telhado, de Rita Taborda Duarte e Rachel Caiano
Numa linguagem desenfadada e de proximidade, cultivando a curiosidade e riqueza de vocabulário (há rodapés divertidos sobre, por exemplo, o que é “modorra” ou “cocuruto”), esta parábola sobre a importância da singularidade e da autoimagem positiva não precisa de seduzir com desenhos hipercoloridos. Aqui, uma tempestade mostra que um leão sem juba, afinal, ganha pontos por não ficar com cabelos emaranhados… Caminho > 40 págs. €12,90
5. A Sinfonia dos Animais, de Dan Brown

O autor de O Código da Vinci ensaia a mão numa história simples, originada na predileção pela música e no gosto pelos enigmas patentes nos seus romances adultos, e para a qual criou 21 temas. Empurrada pelos desenhos ágeis e naives de Susan Batori, a narrativa segue um rato maestro que convoca vários animais para a orquestra: uma avestruz nervosa com clarinete, chitas velozes no piano e no violoncelo, ratinhos com maracas… E há letras escondidas que, reunidas, formam nomes de instrumentos. Moral? A música é universal. Bertrand > 48 págs. > €15,50