As principais células do cérebro são os neurónios; usamos apenas 10% da capacidade deste órgão; ouvir música clássica torna-nos mais inteligentes; a internet estupidifica. Quantas vezes ouvimos tais afirmações proferidas com a legitimidade de verdades científicas? E quantas vezes cedemos à tentação de acreditar nelas?
O mais recente livro de Alexandre Castro Caldas, diretor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, e da neuropsicóloga Joana Rato traz uma dose renovada de conhecimento científico que permite desmistificar muitas destas crenças. Nas páginas de Neuromitos, fomenta-se uma atitude científica de pesquisa em relação ao mundo. “A curiosidade e a procura da causa das coisas fazem parte de um instinto natural de sobrevivência”, afirma Castro Caldas, ressalvando: “no entanto, temos a tendência natural para aceitar explicações que vêm ao encontro das nossas crenças instauradas”.
Dotados de informação à distância de um clique, cada vez menos questionamos de onde é que esta vem, acreditando nas coisas pelas razões mais curiosas. Por exemplo, o multitasking feminino é um mito. Os autores explicam que, a menos que se desenvolvam tarefas muito distintas, como caminhar e ler ao mesmo tempo, o cérebro ou desempenha bem uma tarefa ou outra.
Também a ideia de que certas pessoas usam predominantemente um hemisfério do cérebro, ou que os canhotos são mais criativos, “não passa de um resultado de experiências mal lidas, realizadas nos anos 70, quando surgiu um modelo experimental que pressupunha separar os dois hemisférios cerebrais”. Hoje, sabemos que ambos os hemisférios estão ligados por um corpo caloso e que vamos buscar a cada um deles as funções necessárias para resolver os problemas que nos são postos.
A maior incógnita prende-se com a inteligência. Faz sentido medi-la através de um coeficiente? Pode ser estimulada? Onde está? O que é? “É como uma partitura, que pode ser melhor ou pior, e rege as competências como os instrumentos de uma orquestra. Onde é que ela está no cérebro? Não sabemos.”